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—O que foi? Ela perguntou.
–Nada. Estava apenas pensando… Eu nem sei se Maria Johansson é seu nome verdadeiro.
Maria encolheu os ombros timidamente.
–Deve ser.
–Isso não é justo, ele protestou.
–Você conhece o meu.
–Eu não estou dizendo que não é o meu nome verdadeiro. Estava gostando disso, brincando com ele.
–Você sempre pode me chamar de Agente Marigold, se preferir.
Ele riu. Marigold era seu codinome, com seu Zero. Era quase uma coisa boba para ele, usar nomes falsos quando se conheciam pessoalmente – mas, novamente, o nome Zero parecia causar medo em muitos que ele encontrou.
—Qual era o codinome do Reidigger? Reid perguntou baixinho. Isso quase o espetou quando perguntou. Alan Reidigger tinha sido o melhor amigo de Kent Steele – não, Reid pensou, era meu melhor amigo – um homem de lealdade aparentemente inflexível. O único problema era que Reid mal se lembrava dele. Todas as lembranças de Reidigger se foram com o implante supressor de memória.
—Você não se lembra? Maria sorriu agradavelmente com o pensamento.
– Alan te deu o nome Zero, você sabia? E você deu a ele o dele. Deus, há anos eu não lembrava daquela noite. Estávamos em Abu Dhabi, creio eu, bêbados, acabando de sair de algum barzinho de hotel. Ele chamou você de —Ground Zero— – como o ponto de detonação de uma bomba, porque você costumava deixar uma bagunça por onde passava. Isso encurtou e virou Zero, e o apelido pegou. E você chamou ele de…
Um telefone tocou, interrompendo sua história. Reid instintivamente olhou para o seu próprio celular, na mesa, esperando ver o número de casa ou do celular de Maya exibido na tela.
—Relaxe, ela disse, sou eu. Eu vou simplesmente ignorar… Ela olhou para o telefone e franziu a testa perplexa. Na verdade, é trabalho. Só um segundo. Ela respondeu. Sim? Mm-hmm. Seu olhar sombrio se levantou e encontrou o de Reid. Ela segurou-o quando sua careta ficou mais intensa. O que quer que estivesse sendo dito do outro lado da linha não era claramente uma boa notícia. Compreendo. OK. Obrigada. Ela desligou.
—Você parece incomodada, observou ele. Eu sei, eu sei, você não pode falar sobre coisas de trabalho…
–Ele escapou, ela murmurou. O assassino de Sion, aquele no hospital? Kent, ele saiu, menos de uma hora atrás.
–Rais? Reid disse espantado. Um suor frio imediatamente jorrou em sua testa. Como?
–Eu não tenho detalhes, disse ela apressadamente enquanto colocava o celular de volta na bolsa.
–Eu sinto muito, Kent, mas eu tenho que ir.
–Sim, ele murmurou. Eu entendo. Na verdade, ele se sentia a cem milhas de distância de sua mesa aconchegante no pequeno restaurante. O assassino que Reid havia deixado morrer – não uma, mas duas vezes – ainda estava vivo e agora em liberdade.
Maria se levantou e, antes de sair, inclinou-se e apertou os lábios contra os dele.
–Nós vamos fazer isso de novo em breve, eu prometo. Mas agora, o dever me chama.
—Claro, disse ele. Vá e encontre-o. E Maria? Seja cuidadosa. Ele é perigoso.
–Eu também. Ela piscou e saiu do restaurante apressadamente.
Reid ficou lá sozinho por um longo momento. Quando a garçonete se aproximou, ele nem ouviu as palavras dela; apenas acenou vagamente para indicar que estava bem. Mas estava longe de estar bem. Nem sentiu o formigamento elétrico nostálgico quando Maria o beijou. Tudo o que podia sentir era um nó de pavor se formando em seu estômago.
O homem que acreditava estar predestinado para matar Kent Steele havia escapado.
CAPÍTULO CINCO
Adrian Cheval ainda estava acordado apesar da hora tardia. Ele se sentou em um banquinho na cozinha, com o olhar embaçado e sem piscar olhou para a tela do laptop na frente dele, seus dedos digitavam freneticamente.
Parou tempo suficiente para ouvir Claudette descendo suavemente as escadas acarpetadas do sótão em seus pés descalços. O apartamento deles em Marselha era pequeno, mas aconchegante, no fim de uma rua tranquila, a uma curta caminhada de cinco minutos do mar.
Um momento depois, sua leve silhueta e seu cabelo de fogo apareceram. Ela colocou as mãos nos ombros dele, deslizando-as para cima e para baixo, descendo pelo peito dele, a cabeça pousando na parte superior de suas costas.
–Mon chéri, ela ronronou. Meu amor. Eu não consigo dormir.
–Nem eu, ele respondeu suavemente em francês. Há muito a ser feito.
Ela o mordeu gentilmente no lóbulo da orelha.
–Conte-me.
Adrian apontou para a tela, que exibia a estrutura cíclica de RNA de fita dupla da varíola major – o vírus conhecido pela maioria como varíola.
–Esta linhagem da Sibéria é… é incrível. Eu nunca vi nada como isso. Pelos meus cálculos, a virulência seria espantosa. Estou convencido de que a única coisa que poderia tê-la impedido de erradicar a humanidade há milhares de anos foi o período glacial.
—Um novo dilúvio. Claudette gemeu um suspiro suave em seu ouvido. Quanto tempo até que esteja pronto?
–Eu preciso fazer modificações na cepa, mantendo a estabilidade e a virilidade, explicou ele. Não é uma tarefa simples, mas é necessária. A OMS obteve amostras desse mesmo vírus cinco meses atrás; não há dúvida de que uma vacina está sendo desenvolvida, se já não houver uma. Nossa cepa deve ser única o suficiente para que suas vacinas sejam ineficazes.
O processo era conhecido como mutagênese letal, manipulando o RNA das amostras que ele havia adquirido na Sibéria para aumentar a virulência e reduzir o período de incubação. Em seus cálculos, Adrian suspeitava que a taxa de mortalidade do vírus variola major mutante poderia chegar a setenta e oito por cento – quase três vezes a da varíola natural que havia sido erradicada pela Organização Mundial de Saúde em 1980.
Ao retornar da Sibéria, Adrian visitou Estocolmo pela primeira vez e usou uma identificação da Renault de um estudante falecido, para acessar suas instalações, onde garantiu que as amostras ficassem inativas enquanto ele trabalhava. Mas não podia permanecer sob a identidade de outra pessoa, então roubou o equipamento necessário e voltou para Marselha.
Ele montou seu laboratório no porão não utilizado de uma alfaiataria a três quarteirões do apartamento deles; o gentil alfaiate acreditava que Adrian era um geneticista, pesquisando DNA humano e nada mais, e Adrian mantinha a porta trancada com um cadeado quando não estava presente.
—Imam Khalil ficará satisfeito, Claudette respirou em seu ouvido.
–Sim, Adrian concordou em voz baixa. Ele ficará satisfeito.
A maioria das mulheres provavelmente não estaria muito interessada em encontrar o parceiro trabalhando com uma substância tão volátil quanto uma variedade altamente virulenta de varíola – mas Claudette não fazia parte da maioria das mulheres. Ela era pequena, com apenas um metro e cinquenta e quatro em comparação com os cento e oitenta e dois centímetros de altura de Adrian. Seu cabelo era de um vermelho ardente e seus olhos eram verdes como a selva mais densa, sugerindo uma certa irascibilidade.
Haviam se conhecido no ano anterior, quando Adrian estava no fundo do poço. Ele acabara de ser expulso da Universidade de Estocolmo por tentar obter amostras de um enterovírus raro; o mesmo vírus que tirou a vida de sua mãe apenas algumas semanas antes. Na época, Adrian estava determinado a desenvolver uma cura – obcecado – para que ninguém mais sofresse como ela. Mas foi descoberto pelo corpo docente da universidade e sumariamente expulso.
Claudette encontrou-o em um beco, deitado em uma poça de sua própria desolação e vômito, meio inconsciente por causa da bebida. Ela levou-o para casa, limpou-o e deu-lhe água. Na manhã seguinte, Adrian acordou e encontrou uma mulher bonita sentada à sua cabeceira, sorrindo para ele enquanto dizia:
–Eu sei exatamente o que você precisa.
Ele girou no banquinho da cozinha para encará-la e passou as mãos pelas costas dela. Mesmo sentado, estava quase na altura dela.
–É interessante você mencionar o Dilúvio, observou ele. Você sabe, há estudiosos que dizem que se um Grande Dilúvio realmente ocorreu, teria sido de aproximadamente sete a oito mil anos atrás… quase a mesma época desta cepa. Talvez o Dilúvio tenha sido uma metáfora, e foi esse vírus que limpou o mundo de seus iníquos.
Claudette riu dele.
–Seus esforços constantes para misturar ciência e espiritualidade ganham força comigo. Ela tomou seu rosto suavemente em suas mãos e beijou sua testa.
–Mas você ainda não entende que às vezes a fé é tudo que você precisa.
Fé é tudo que você precisa. Era o que ela lhe havia receitado para ele no ano anterior, quando acordou de seu estupor bêbado. Ela o levou e permitiu que ficasse em seu apartamento, o mesmo que eles ainda ocupam. Adrian não era um crente no amor à primeira vista antes de Claudette, mas ela passou a ter muitas influências em seu modo de pensar.
Ao longo de alguns meses, ela o apresentou aos princípios do Imam Khalil, um santo islâmico da Síria. Khalil se considerava nem sunita nem xiita, mas simplesmente um devoto de Deus – até mesmo ao ponto de permitir que sua pequena seita de seguidores o chamasse pelo nome que escolhessem, pois Khalil acreditava que o relacionamento de cada indivíduo com seu criador era estritamente pessoal. Para Khalil, o nome desse deus era Allah.
—Eu quero que você venha para a cama, disse Claudette, acariciando sua bochecha com as costas da mão. Você precisa de descanso. Mas primeiro… você tem a amostra preparada?
–A amostra. Adrian assentiu. Sim. Eu a tenho.
Havia apenas um único e pequeno frasco, um pouco maior do que uma unha, do vírus ativo, hermeticamente fechado em vidro e aninhado entre dois cubos de espuma, dentro de um recipiente de risco biológico de aço inoxidável. A caixa em si estava bastante visível sobre a bancada de sua cozinha.
–Bom, Claudette ronronou. Porque estamos esperando visitas.
–Hoje à noite? As mãos de Adrian se soltaram das suas costas. Não esperava que isso acontecesse tão cedo. A esta hora? Era quase duas horas da manhã.
–A qualquer momento, ela disse. Fizemos uma promessa, meu amor, e devemos mantê-la.
–Sim, Adrian murmurou. Estava certa, como sempre. Promessas não devem ser quebradas.
–Claro.
Uma batida brusca e pesada na porta do apartamento assustou os dois.
Claudette foi rapidamente até a porta, soltando a corrente e abrindo apenas dois centímetros. Adrian seguiu, olhando por cima do ombro para ver o par de homens do outro lado. Nenhum parecia amigável. Não sabia seus nomes e passou a pensar neles apenas como —os árabes— – embora, pelo que sabia, pudessem ser curdos ou até mesmo turcomenos.
Um deles falou rapidamente com Claudette em árabe. Adrian não entendeu; seu árabe era rudimentar, na melhor das hipóteses, limitado a um punhado de frases que Claudette lhe ensinara, mas ela acenou com a cabeça uma vez, deslizou a corrente para o lado e concedeu-lhes entrada.
Ambos eram razoavelmente jovens, com cerca de trinta e poucos anos, e exibiam pequenas barbas negras sobre as bochechas coradas. Usavam roupas europeias, jeans, camisetas e blusões contra o ar frio da noite; Imam Khalil não exigia qualquer vestimenta religiosa de seus seguidores, nem precisavam ficar cobertos. De fato, desde que se mudaram da Síria, preferiu que seu povo se misturasse sempre que possível – por razões que eram óbvias para Adrian, considerando o que os dois homens estavam procurando lá.
—Cheval. Um dos sírios assentiu para Adrian, quase com reverência. Avançando? Diga-nos. Ele falou com um francês extremamente pausado.
–Avançando? Adrian repetiu, confuso.
–Ele quer perguntar sobre o seu progresso, disse Claudette gentilmente.
Adrian sorriu.
–Seu francês é terrível.
–Igual ao seu árabe, Claudette respondeu.
Sensato, pensou Adrian.
–Diga a ele que o processo leva tempo. É meticuloso e requer paciência. Mas o trabalho está indo bem.
Claudette transmitiu a mensagem em árabe e os dois árabes concordaram com a aprovação.
–Pequeno pedaço? Perguntou o segundo homem. Parecia que eles tinham a intenção de praticar o francês com ele.
—Eles vieram por causa da amostra, Claudette disse a Adrian, embora ele tivesse entendido o contexto. Você vai pegá-lo? Era claro para ele que Claudette não tinha interesse nenhum em tocar no recipiente de risco biológico, selado ou não.
Adrian assentiu, mas não se mexeu.
–Pergunte por que Khalil não veio.
Claudette mordeu o lábio e tocou-o gentilmente no braço.
–Querido, ela disse calmamente, tenho certeza de que ele está ocupado em outro lugar…
—O que poderia ser mais importante do que isso? Adrian insistiu. Esperava que o imã aparecesse.
Claudette fez a pergunta em árabe. O par de sírios franziu a testa e olhou um para o outro antes de responder.
–Eles me dizem que ele está visitando enfermos hoje à noite, Claudette disse a Adrian em francês: está orando por sua libertação deste mundo físico.
A mente de Adrian alcançou rapidamente uma memória de sua mãe, poucos dias antes de sua morte, deitada na cama com os olhos abertos, mas inconsciente. Estava quase inconsciente da medicação; sem isso ela estaria em constante tormento, mas com a medicação estava praticamente em coma. Nas semanas que antecederam a sua partida, ela não tinha noção do mundo ao seu redor. Ele orara muitas vezes por sua recuperação, ali ao lado de sua cama, embora, quando ela se aproximava do fim, suas orações mudavam e ele se via desejando a ela apenas uma morte rápida e indolor.
—O que ele vai fazer com isso? Adrian perguntou. A amostra.
–Ele vai garantir que sua mutação funcione, disse Claudette simplesmente. Você sabe disso.
–Sim, mas… Adrian fez uma pausa. Sabia que não era seu lugar questionar a intenção do imã, mas de repente teve um forte desejo de saber.
–Ele vai testá-la? Algum lugar remoto? É importante não mostrar tudo cedo demais. O resto do lote não está pronto…
Claudette disse alguma coisa rapidamente para os dois homens sírios, e então ela pegou Adrian pela mão e o levou para a cozinha.
–Meu amor, ela disse calmamente, você tem dúvidas. Conte-me.
Adrian suspirou.
–Sim, ele admitiu. Esta é apenas uma amostra muito pequena, não tão estável quanto as outras. E se isso não funcionar?
—Vai funcionar. Claudette envolveu seus braços ao redor dele. Eu tenho toda a confiança em você, assim como o Imam Khalil. Você foi presenteado com esta oportunidade. Você é abençoado, Adrian.
Você é abençoado. Essas eram as mesmas palavras que Khalil usara quando se conheceram. Três meses antes, Claudette levara Adrian para uma viagem à Grécia. Khalil, como muitos sírios, era um refugiado – mas não político, nem um subproduto da nação dilacerada pela guerra. Era um refugiado religioso, perseguido tanto por sunitas quanto por xiitas por suas noções idealistas. O tipo de espiritualidade de Khalil era uma fusão de princípios islâmicos e algumas das influências filosóficas esotéricas de drusos, como a veracidade e a transmigração da alma.
Adrian conhecera o homem santo num hotel em Atenas. Imam Khalil era um homem gentil com um sorriso agradável, vestindo um terno marrom com seus cabelos escuros e barba penteados e arrumados. O jovem francês ficou ligeiramente surpreso quando, ao se encontrar pela primeira vez, o imã pediu a Adrian que orasse com ele. Juntos, eles se sentaram em um tapete, de frente para Meca, e rezaram silenciosamente. Havia uma calma que pairava no ar ao redor do Imam e como uma aura, uma placidez que Adrian não havia experimentado desde que era um menino nos braços da mãe, quando ela era saudável.
Depois da oração, os dois homens fumaram em um cachimbo de vidro e beberam chá enquanto Khalil falava de sua ideologia. Eles discutiram a importância de ser verdadeiro consigo mesmo; Khalil acreditava que o único caminho para a humanidade absolver seus pecados era a veracidade absoluta, que permitiria à alma reencarnar como um ser puro. Ele fez muitas perguntas a Adrian sobre ciência e espiritualidade. Perguntou sobre a mãe de Adrian, e prometeu a que em algum lugar na terra ela nascera de novo, pura, bonita e saudável. O jovem francês sentiu grande consolo nisso.
Khalil então falou do Imam Mahdi, o Redentor e o último dos Imam, os homens santos. Mahdi seria aquele que traria o Dia do Juízo Final e livraria o mundo do mal. Khalil acreditava que isso ocorreria muito em breve, e após a redenção do Mahdi viria a utopia; cada ser do universo seria perfeito, genuíno e imaculado.
Por várias horas, os dois homens sentaram-se juntos, bem na noite, e quando a cabeça de Adrian estava tão nebulosa quanto o ar denso e esfumaçado que girava em torno deles, ele finalmente fez a pergunta que estava em sua mente.
—É você, Khalil? Ele perguntou ao homem santo. Você é o Mahdi?
Imam Kahlil sorriu largamente. Ele pegou a mão de Adrian e disse gentilmente:
–Não, meu filho. É você. Você é abençoado. Eu posso ver isso tão claramente quanto vejo seu rosto.
Eu sou abençoado. Na cozinha do apartamento deles em Marselha, Adrian pressionou os lábios na testa de Claudette. Estava certa; eles fizeram uma promessa a Khalil e ela deve ser mantida. Ele retirou a caixa de aço de risco biológico da bancada e levou-a para os árabes que esperavam. Soltou a tampa e levantou a metade superior do cubo de espuma para mostrar-lhes o minúsculo frasco de vidro hermeticamente fechado.
Não parecia haver nada no frasco – o que fazia parte da natureza dele ser uma das substâncias mais perigosas do mundo.
–Querida, disse Adrian quando substituiu a espuma e apertou a tampa com firmeza novamente. Eu preciso que você diga a eles, em termos inequívocos, que sob nenhuma circunstância eles devem tocar neste frasco. Deve ser tratado com o máximo cuidado.
Claudette retransmitiu a mensagem em árabe. De repente, o homem sírio que segurava a caixa parecia muito menos confortável do que um momento antes. O outro homem fez um gesto de agradecimento a Adrian e murmurou uma frase em árabe, uma que Adrian entendeu.
–Alá está com você, que a paz esteja com você.
E sem outra palavra, os dois homens saíram do apartamento.
Uma vez que se foram, Claudette girou a trava e colocou a corrente de volta, e então se virou para seu amado com uma expressão sonhadora e satisfeita em seus lábios.
Adrian, no entanto, estava congelado no local, com uma expressão sisuda.
–Meu amor? Ela disse cautelosamente.
—O que eu acabei de fazer? Ele murmurou. Ele já sabia a resposta; ele colocou um vírus mortal nas mãos de duas pessoas que não eram Imam Khalil, mas sim dois estranhos. E se eles não entregarem? E se eles derrubarem, abrirem ou…
—Meu amor. Claudette deslizou os braços ao redor de sua cintura e pressionou a cabeça contra o peito dele. Eles são seguidores do Imam. Eles vão ter cautela e levarão a amostra até onde ela precisa chegar. Tenha fé. Você deu o primeiro passo para mudar o mundo. Você é o Mahdi. Não esqueça isto.
—Sim, disse suavemente. Claro. Você está certa, como sempre. E devo finalizar isso.
Se sua mutação não funcionasse como deveria, ou se não produzisse o lote completo, não tinha dúvidas de que seria um fracasso não apenas aos olhos de Khalil, mas também de Claudette. Sem ela Cheval desmoronaria. Precisava dela como precisava de ar, comida ou luz solar.
Mesmo assim, não pôde deixar de se perguntar o que fariam com a amostra – se o imã Khalil a testasse em particular, em um local remoto, ou se seria divulgada publicamente.
Mas ele descobriria em breve.
CAPÍTULO SEIS
—Papai, você não precisa me acompanhar até a porta toda vez, Maya gritou enquanto cruzavam Dahlgren Quad em direção a Healy Hall no campus de Georgetown.
–Eu sei que não preciso, disse Reid. Eu quero. Você tem vergonha de ser vista com seu pai?
–Não é isso, Maya murmurou. O passeio tinha sido tranquilo, Maya olhando pensativa pela janela, enquanto Reid tentava pensar em algo para falar, mas não conseguiu.
Maya estava se aproximando do final de seu primeiro ano do ensino médio, mas ela já havia feito o teste de suas aulas de AP e começou a fazer alguns cursos por semana no campus de Georgetown. Foi um bom salto em direção ao crédito universitário e foi ótimo para a aplicação – especialmente porque Georgetown era sua melhor escolha no momento. Reid insistiu não só em levar Maya para a faculdade, mas também em levá-la para a sala de aula.
Na noite anterior, quando Maria foi obrigada a interromper o encontro de repente, Reid correu para suas meninas. Ficou extremamente perturbado com a notícia da fuga de Rais – seus dedos tremiam contra o volante de seu carro -, mas ele se forçou para permanecer calmo e tentou pensar logicamente. A CIA já estava em busca e provavelmente também a Interpol. Ele conhecia o protocolo; todos os aeroportos seriam vigiados, e bloqueios seriam estabelecidos nas principais vias de comunicação de Sion. E Rais não tinha aliados a quem recorrer.
Além disso, o assassino havia escapado na Suíça, a mais de seis mil quilômetros de distância. Meio continente e um oceano todo se estendiam entre ele e Kent Steele.
Mesmo assim, sabia que se sentiria muito melhor quando recebesse a notícia de que Rais havia sido detido novamente. Estava confiante na capacidade de Maria, mas desejou ter tido a perspicácia de pedir a ela para mantê-lo atualizado da melhor maneira possível.
Ele e Maya chegaram à entrada de Healy Hall e Reid parou.
–Tudo bem, vou te ver depois da aula?
Ela olhou para ele desconfiada.
–Você não vai me acompanhar?
—Não hoje. Tinha a sensação de que sabia por que Maya estava tão quieta naquela manhã. Ele lhe dera um pedacinho de independência na noite anterior, mas hoje estava de volta aos seus receios habituais. Tinha que se lembrar que ela não era mais uma garotinha.
–Olha, eu sei que tenho ficado um pouco em cima de você pouco ultimamnte…
—Um pouco? Maya zombou.
–… E sinto muito por isso. Você é uma jovem muito capaz, perspicaz e inteligente. E só quer independência. Eu reconheço isso. Minha natureza superprotetora é um problema meu, não seu. Não é culpa sua.
Maya tentou esconder o sorriso no rosto dela.
–Você acabou de usar a fala 'não é você, sou eu'?
Ele assentiu.
–Usei, porque é verdade. Eu não seria capaz de me perdoar se algo acontecesse com você e eu não estivesse lá para evitar.
—Mas você nem sempre vai estar lá, ela disse, não importa o quanto você tente. E preciso ser capaz de cuidar de meus problemas.
–Você está certa. Vou tentar recuar um pouco.
Ela arqueou uma sobrancelha.
–Você promete?
–Eu prometo.
—Ok. Ela se esticou na ponta dos pés e beijou sua bochecha. Vejo você depois das aulas. Ela se dirigiu para a porta, mas depois teve outro pensamento:
–Sabe, talvez eu devesse aprender a atirar, por via das dúvidas…
Ele apontou um dedo severo em sua direção.
–Não me provoque.
Ela sorriu e desapareceu no corredor. Reid ficou parado por alguns minutos. Deus, as meninas estavam crescendo rápido demais. Em dois curtos anos, Maya seria uma adulta, legalmente falando. Em breve teria carros, aulas na faculdade e… e, mais cedo ou mais tarde, garotos. Felizmente, isso ainda não havia acontecido.
Ele se distraiu admirando a arquitetura do campus enquanto se dirigia para o Copley Hall. Não tinha certeza se ficaria cansado de andar pela universidade, apreciando as estruturas dos séculos XVIII e XIX, muitas construídas no estilo Românico Flamengo que floresceu na Idade Média europeia. Claro que eram bons os meados de março na Virgínia. Pois acontecia um ponto de virada na estação. A temperatura subia e descia dos dez aos quinze graus em dias mais agradáveis.
No seu papel como um adjunto estava tipicamente assumindo turmas menores, de vinte e cinco a trinta alunos e principalmente de pós-graduação. Ele se especializou em lições de guerra, e muitas vezes substituía o professor Hildebrandt, que era titular e viajava frequentemente por causa de um livro que estava escrevendo.
Ou talvez ele esteja secretamente na CIA, refletiu Reid.
—Bom dia, disse em voz alta quando entrou na sala de aula. A maioria de seus alunos já estava lá quando chegou, então correu para a frente, colocou sua bolsa de viagem na mesa e tirou o casaco de tweed.




