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- Que porra você está gritando aí? – Ele murmurou. – Você não vê que eu estou tentando dormir? Cara, estou com uma dor de cabeça do cacete.
Jake ficou de queixo caído. O xerife gordo riu ao perceber a surpresa do agente. Tallhamer disse:
- Agente Crivaro, gostaria que você conhecesse Oswald Hines, o único advogado da cidade. Ele é chamado para funções de defesa pública às vezes. Ele foi preso um tempo atrás por desrespeito à ordem e excesso de álcool. Conveniente para todos, porque agora ele fica sempre aqui. E isso não é nada incomum.
Oswald Hines tossiu e gemeu.
- É, acho que é verdade – ele disse. – Isso aqui é como minha segunda casa—ou um segundo escritório, podemos dizer. Em horas como essa, é um local conveniente. Eu odiaria ter que ir a outro lugar do jeito que estou me sentindo agora.
Hines respirou fundo, devagar, quase sem olhar para as outras pessoas ali. Então, ele disse a Jake:
- Escute, Agente Sei-Lá-O-Que. Como advogado de defesa desse homem, eu devo insistir que vocês o deixem em paz. Já foram feitas muitas perguntas para ele na última semana. Ele está sendo mantido preso sem motivo. – O advogado bocejou e continuou. – Na verdade, eu esperava que ele já tivesse sido solto. É melhor ele já ter saído quando eu acordar novamente.
O advogado começou a se deitar novamente, mas o xerife disse:
- Fique acordado, Ozzie. Você tem trabalho a fazer. Vou pegar uma xícara de café para você. Você quer que eu abra sua cela para que você fique mais perto do seu cliente?
- Não, estou bem aqui – Ozzie disse. – Mas corra com esse café. Você sabe como eu gosto.
Rindo, o xerife Tallhamer disse:
- Como é mesmo?
- Em qualquer xícara – Ozzie murmurou. – Vá. Agora.
Tallhamer voltou para seu escritório. Jake ficou parado, olhando para o preso por um instante. Finalmente, ele disse:
- Senhor Cardin, imagino que você não tenha um álibi para o momento do assassinato de sua ex-mulher.
Cardin encolheu os ombros e respondeu:
- Eu não sei de onde tiraram isso. Eu estava em casa. Jantei comida congelada, assisti TV até tarde, dormi o resto da noite. Eu não estava nem perto de onde tudo aconteceu—seja já onde for.
- Alguém pode comprovar isso? – Jake disse.
Cardin sorriu e disse:
- Não, mas ninguém poderia provar se eu estava sozinho, não é?
Observando a malícia na expressão de Cardin, Jake se perguntou:
Ele é culpado e está me provocando?
Ou ele só não entendeu a seriedade dessa situação?
Jake perguntou:
- Como era sua relação com sua ex-mulher na época do assassinato?
O advogado intrometeu-se rapidamente.
- Phil, não responda essa pergunta.
Cardin olhou para a outra cela e disse:
- Ah, cala a boca Ozzie. Não vou falar para ele nada diferente do que eu já disse ao xerife centenas de vezes. Não vai fazer diferença nenhuma. – Então, ele olhou para Jake e disse, em um tom sarcástico. - As coisas estavam muito bem entre Alice e eu. Nosso divórcio foi totalmente amigável. Eu não teria machucado um fio de cabelo daquele rosto lindo.
O xerife havia acabado de retornar e entregou a xícara de café ao advogado.
- Amigável, claro – Tallhamer disse a Cardin. – No dia do assassinato, você entrou gritando no salão de beleza em que ela trabalhava, dizendo na frente das clientes que ela tinha arruinado sua vida, que você a odiava e queria ela morta. É por isso que você está aqui.
Jake colocou as mãos no bolso e disse:
- Você se importaria em me falar sobre isso?
Cardin olhou dentro dos olhos de Jake e disse, apertando os dentes:
- Foi tudo culpa dela.
Jake arrepiou-se ao sentir o ódio na voz dele.
É um verdadeiro idiota, pensou.
Ele já havia lidado com muitos assassinos que não conseguiam assumir a responsabilidade por qualquer coisa que dava errado em suas vidas. Jake sabia que o ressentimento de Cardin dificilmente provava sua culpa. Mas ele já podia entender completamente porque Cardin havia sido preso.
Ainda assim, Jake sabia que mantê-lo preso era outro problema, agora que havia acontecido outro assassinato. Pelo que o Comandante Messenger dissera a Jake em Dighton, não havia nenhuma evidência física ligando Cardin ao crime. A única evidência era o comportamento ameaçador, especialmente a cena no salão onde Alice trabalhara. Tudo era circunstancial.
A não ser que ele diga algo que o incrimine aqui, agora.
Jake disse a Cardin:
- Pelo que eu vejo você é um ex-marido que não está exatamente de luto.
Cardin grunhiu e disse:
- Talvez eu estivesse se Alice não tivesse me feito tão mal. Passou nosso casamento todo dizendo que eu era um fracassado—como se aquele sapo com quem ela casou depois fosse muito melhor. Bom, eu não era um fracassado até ela se divorciar de mim. Foi só aí que as coisas começaram a dar errado para mim. Não é justo...
Jake escutou Cardin seguir reclamando de sua ex. A amargura e a dor no coração dele eram muito perceptíveis. Jake suspeitava que Cardin nunca havia conseguido deixar de amar Alice. Parte dele parecia ainda ter esperanças de que eles pudessem terminar juntos.
No entanto, esse amor dele por ela era claramente doente e obsessivo—nenhum pouco saudável, em nenhum aspecto. Jake conhecia muitos assassinos que haviam agido exatamente movidos por esse tipo de sentimento, que chamavam de amor.
Cardin parou por um momento, e então disse:
- Me diga—é verdade que encontraram o corpo dela envolto em arame farpado? – Balançando a cabeça e sorrindo, ele acrescentou: - Cara, isso foi... foi criativo.
Jake chocou-se um pouco com tais palavras.
O que exatamente Cardin queria dizer?
Ele estava admirando o trabalho manual de outra pessoa?
Ou estava maliciosamente elogiando seu próprio esforço?
Jake percebeu que era hora de tentar abordá-lo sobre o outro crime. Se Cardin fosse cúmplice de quem havia matado Hope Nelson, talvez Jake poderia fazê-lo admitir. Mas ele sabia que precisava tocar no assunto com cuidado. Ele disse:
- Senhor Cardin, você conhecia uma mulher chamada Nope Nelson, de Dighton?
Cardin coçou a cabeça e respondeu.
- Nelson... esse nome é familiar. Não é a mulher do prefeito, ou algo assim?
Encostado na grade do lado de fora da cela, o Xerife Tallhamer grunhiu e disse:
- Ela esta morta, é isso que ela está.
Jake lutou para não deixar transparecer seu desânimo. Ele não planejara contar a verdade a Cardin tão diretamente. Esperava levar um tempo, para tentar descobrir se ele já sabia do que acontecera com Hope Nelson.
O advogado na outra cela levantou-se.
- Morta? – Ele disse. – De que porra vocês estão falando?
Tallhamer cuspiu um pouco de tabaco no chão de concreto e disse:
- Ela foi morta ontem à noite—exatamente do mesmo jeito que Alice. Amarrada em um poste, empacotada com arame farpado.
Parecendo completamente sóbrio de repente, Ozzie esbravejou:
- Então por que diabos vocês ainda estão segurando meu cliente? Não vão me dizer que vocês acham que ele matou outra mulher ontem enquanto estava preso aqui.
Jake desabou por dentro. Sua tática havia dado errado, e ele sabia que qualquer outra pergunta não faria sentido. Mesmo assim, ele perguntou novamente a Cardin:
- Você conhecia Hope Nelson?
- Não acabei de falar que não? – Cardin disse, um pouco surpreso.
Mas Jake não conseguiu decifrar se aquela surpresa era real ou não.
Ozzie segurou as grades de sua própria cela e gritou:
- É melhor vocês soltarem meu cliente agora, ou vocês vão enfrentar um bom processo!
Jake segurou um suspiro.
Ozzie estava certo, é claro, mas...
Ele escolheu ser competente de repente.
Jake virou-se para Tallhamer e disse:
- Solte Cardin. Mas fique bem de olho nele.
Tallhamer chamou seu parceiro para que ele trouxesse os pertences de Cardin. Quando o xerife abriu a cela para que Cardin saísse, ele virou-se para Ozzie e disse:
- Você também quer ir?
Ozzie bocejou e deitou-se em seu beliche.
- Não. Tive um belo dia de trabalho. Vou dormir mais um pouco—enquanto você não precisar da cela para por outra pessoa.
Tallhamer piscou e disse:
- Sinta-se à vontade.
Ao sair da estação com Tallhamer e Cardin, Jake viu que o homem de jaleco branco ainda estava ali, do outro lado da rua, exatamente no mesmo lugar que antes.
De repente, o homem começou a se mexer, atravessando a rua em direção a eles.
Tallhamer murmurou para Jake:
- Lá vem problema.
CAPÍTULO OITO
Jake analisou o homem que estava correndo em direção a eles no lado de fora da estação policial. Ele viu raiva no rosto do homem, mas não sentiu que era o alvo daquele sentimento. Percebeu, claramente, que Tallhamer não estava pronto para o que estava por vir.
No mesmo instante, Cardin havia se virado e estava correndo rapidamente pela calçada.
O homem nervoso atacou Tallhamer. Apontando um braço na direção de Cardin, ele gritou:
- Eu exijo que esse merda volte a ser preso!
Aparentemente imune à raiva do homem, o xerife Tallhamer calmamente apresentou Jake a Earl Gibson, o único médico da cidade, marido de Alice Gibson.
Jake esticou a mão e ofereceu suas condolências, mas os braços do médico ainda estavam balançando em círculos enquanto ele falava com Tallhamer. Jake percebeu que o Dr. Gibson era um homem simples, e seu rosto tinha muitas marcas, ainda mais visíveis por sua onda de fúria. Ele lembrou de que Cardin havia o descrito como “aquele sapo com que ela casou depois”.
De fato, Cardin era um cara muito bonito se comparado ao médico.
Jake imaginou que Earl Gibson devia ter outras virtudes, que não sua aparência, que teriam atraído a mulher agora morta. Afinal de contas, Gibson era médico, e o ex-marido de Alice não passava de um cozinheiro fracassado.
Provavelmente, uma escolha muito fácil em uma cidade com poucas opções.
A raiva de Gibson só aumentou quando ele descobriu quem Jake era.
- O FBI! Por que é que o FBI tem que estar aqui? Vocês já pegaram o assassino da minha mulher! Vocês soltaram ele! Não tem um júri no mundo que diria que ele não é culpado. E agora vocês soltaram ele!
O xerife Tallhamer arrastou seus pés e disse em um tom paciente, quase com pena:
- Earl, nós falamos sobre isso pouco tempo atrás, não?
O Dr. Gibson disse:
- Sim, falamos. E por isso eu fiquei esperando. Eu tinha que ver com meus próprios olhos. Eu queria impedir.
- Nós tivemos que soltar ele, e você sabe porque – Tallhamer disse. – Outra mulher foi morta ontem à noite em Dighton, do mesmo jeito que Alice foi. Eu posso garantir onde Phil Cardin estava ontem à noite, e com certeza não era nem perto de Dighton. Ele não matou aquela mulher, e agora não temos motivos para acreditar que ele tenha matado Alice.
- Não tem motivos! – Gibson disse, explodindo de raiva. – Ele ameaçou a vida dela no mesmo dia. E não venha me falar besteiras sobre a vítima de Dighton e sobre como Phil Cardin não matou ela. Nós dois sabemos que existe um suspeito viável para o outro crime.
Jake se interessou pela conversa de repente.
- Um suspeito viável? – Ele perguntou.
Gibson riu para o xerife e disse:
- Você não contou para ele, contou?
- Me contou o que? – Jake perguntou.
- Sobre o irmão de Phil Cardin, Harvey – Gibson disse a Jake. – Ele defende Phil em tudo. Ele também ameaçou Alice. Ele ligou para ela e disse que ele e Phil iriam se vingar. Ligou no dia em que ela foi morta. E seja lá onde ele estava ontem à noite, não era numa cela. Foi ele que matou aquela mulher em Dighton. Apostaria minha vida nisso.
Jake estava completamente surpreso. Ele perguntou a Gibson:
- Por que você acha que ele mataria alguém em outra cidade?
- Os motivos dele, você quer saber? Talvez ele tinha algo pessoal contra aquela mulher. Ele anda bastante pelo estado, então talvez tenha se envolvido com ela, e então seguido o exemplo do irmão. Mas acho que é mais provável que ele tenha feito isso para proteger o irmão—para fazer as pessoas pensarem que Phil não matou Alice.
Tallhamer suspirou e disse:
- Earl, nós já falamos sobre isso também, não falamos? Nós dois conhecemos Harvey Cardin a vida inteira. Ele viaja por aí porque é um encanador itinerante. Ele fala besteiras às vezes, mas não é como o irmão. Ele não mataria uma mosca, muito menos alguém de um jeito tão horrível.
Jake forçou sua mente para tentar entender o que estava escutando.
Ele desejou que Tallhamer tivesse lhe contado sobre Harvey Cardin desde o início.
Tiras de cidades pequenas, pensou. Alguns deles têm tanta certeza de que sabem tudo sobre todo mundo que podem deixar passar algo importante.
Jake disse ao xerife Tallhamer:
- Quero falar com Harvey Cardin.
O xerife encolheu os ombros, como se achasse que aquilo seria uma perda de tempo. Ele disse:
- Bom, se você quer, tudo bem. Harvey mora só a algumas quadras daqui. Vou levar você lá.
Ao caminhar com o xerife, Jake viu que Gibson estava os seguindo. A última coisa que ele precisava naquele momento era de um viúvo cheio de raiva atrapalhando seu interrogatório com um possível suspeito.
Da maneira mais delicada possível, ele disse:
- Dr. Gibson, o xerife e eu precisamos que você nos deixe fazer nosso trabalho.
Quando Gibson abriu sua boca para protestar, Jake acrescentou:
- Quero falar com você em breve. Onde posso lhe encontrar?
Gibson ficou em silêncio por um momento.
- Estarei no meu consultório – ele disse. – O xerife pode lhe dizer onde fica.
Gibson virou-se e saiu, ainda com raiva.
Jake e Tallhamer caminharam uma curta distância até chegarem a uma pequena casa branca, onde Harvey Cardin morava. Era um cabana velha, com um gramado descuidado.
Tallhamer bateu na porta da frente. Ninguém respondeu, ele bateu novamente, e seguiu sem resposta. O xerife disse:
- Provavelmente ele está fora, talvez trabalhando em outra cidade. Vamos ter que falar com ele outra hora.
Jake não queria esperar “outra hora”. Ele olhou por um dos vidros na porta da frente. Pode ver alguns móveis simples e pouca coisa lá dentro—sem nenhuma decoração especial. Parecia o tipo de lugar que era alugado mobiliado, mas não havia sinais de que alguém morava ali.
Jake imaginou que Harvey Cardin estava de fato fora da cidade...
Mas ele voltaria em algum momento?
Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de um homem, na porta ao lado.
- Posso ajudá-lo com algo, xerife?
Jake virou-se e viu um homem parado no gramado. Tallhamer disse ao homem:
- Esse agente do FBI e eu estamos procurando Harvey Cardin.
O homem balançou a cabeça e disse:
- Você está sem sorte, eu acho. Eu vi ele carregando um caminhão há uma semana—logo depois que o irmão dele foi preso por matar Alice Gibson. Parecia que ele estava levando tudo o que tinha, que não era muita coisa. Perguntei para onde ele ia, e ele disse ‘qualquer lugar que não seja Hyland. Estou cheio dessa porra de cidade’.
Jake sentiu um alarme tocando em sua mente.
Um possível suspeito havia desaparecido.
- Vamos lá – Jake disse a Tallhamer. – Precisamos falar com algumas pessoas.
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