Antes Que Ele Peque

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"É," disse Mackenzie. "Mas eu não posso ter certeza do por que isso me faz sentir dessa forma."
"Porque igrejas são lugares seguros. Você não espera ver grandes buracos de pregos e sangue fresco nas portas delas. Tem alguma parada do Velho Testamento bem ali."
Mackenzie era nada próxima de uma estudiosa da bíblia, mas ela se lembrava de histórias da bíblia da sua infância─alguma coisa sobre o Anjo da Morta passando por uma cidade e coletando os primogênitos de cada família caso não houvesse uma certa marca em suas portas.
Um arrepio crepitou por ela. Ele o reprimiu se virando para a equipe de perícia. Com um ligeiro aceno, ela conseguiu a atenção de um membro da equipe deles. Ele foi até ela, claramente um pouco perturbado pelo que ele e o resto da sua equipe viram. “Agente White,” ele disse. "Este é seu caso agora?"
"Parece que sim. Eu estava pensando se seus rapazes ainda têm os pregos que foram usados para colocá-lo ali."
"Claro que sim," ele disse. Ele acenou para outro membro da equipe e então olhou de volta para porta. "E o cara que fez isso… ele era forte como o Diabo ou tinha todo o tempo do mundo para fazer isso."
"Isso é duvidoso," disse Mackenzie. Ela indicou em direção ao estacionamento da igreja com a cabeça e para a rua atrás dele. "Mesmo que o assassino tenha feito isso por volta das duas ou três da manhã, as chances de um veículo não passar pela Browning Street e não vê-lo são de diminutas a nulas."
"A não ser que o assassino tenha apurado a área de antemão e soubesse as horas mortas do tráfego depois de meia noite," sugeriu Ellington.
"Alguma chance de imagens de vídeo?" ela perguntou.
"Nenhuma. Nós verificámos. A Agente Yardley até ligou para algumas pessoas─proprietários das construções mais próximas. Mas apenas um tinha câmeras de segurança e elas estavam viradas para longe da igreja. Então tem coisa nenhuma aí."
O outro membro forense veio. Ele estava carregando um saco plástico de tamanho médio que continha duas grandes estacas e o que parecia ser um fio de arame. As estacas estavam cobertas em sangue, o qual também se espalhou pelo interior claro do saco.
"São pregos de ferrovia?" perguntou Mackenzie.
"Provavelmente," disse o cara da perícia. "Mas se eles forem, são miniaturizados. Talvez o tipo que pessoas usam para erguer galinheiros ou cercas de pasto."
"Quanto tempo antes de você ter algum tipo de resultado deles?" ela perguntou.
O homem deu de ombros. "Meio dia, talvez? Me informe o que você está procurando especificamente e eu vou tentar achar os resultados para você mais rápido."
"Veja se você consegue encontrar o que o assassino usou para cravar os pregos. Você pode dizer que tipo de coisa pelo desgaste recente na cabeça dos pregos?"
"Sim, nós devemos ser capazes de fazer isso. Tudo foi tratado para o nosso fim. O corpo ainda está conosco; ele não irá para o médico legista até que nós liberemos. As portas e a varanda foram varridas para impressões digitais. Nós informaremos se encontrarmos algo."
"Obrigada," disse Mackenzie.
"Desculpe por já ter movido o corpo. Mas o sol estava nascendo e nós não queríamos isso nos jornais de hoje. Ou nos de amanhã no que diz respeito."
"Não, está certo. Entendo totalmente."
Com isso, Mackenzie se voltou para as portas duplas, dispensando a equipe de peritos não verbalmente. Ela tentou imaginar alguém arrastando um corpo pelo pequeno gramado e para cima das escadas na calada da noite. A posição das luzes de segurança na rua deixaria a frente da igreja escura. Não havia luzes de qualquer tipo ao longo da frente da igreja, então estaria lançada em uma escuridão quase absoluta.
Talvez fosse mais factível do que eu pensei originalmente para o assassino tirar todo o tempo necessário para terminar isso, ela pensou.
"Isso é uma requisição estranha," disse Ellington. "O que você está pensando?"
"Não sei ainda. Mas eu sei que seria preciso uma força e determinação dos infernos para trabalhar sozinho para erguer alguém do chão apenas para pregar suas mãos nessas portas. Se uma marreta foi usada para bater os pregos, pode denotar mais de um assassino─um para segurar a vítima do chão e estender o braço e outro para cravar os pregos."
"Um belo de um quadro, né?" disse Ellington.
Mackenzie assentiu enquanto começava a tirar fotos da cena com seu celular. Enquanto o fazia, a ideia de uma crucificação novamente subiu por ela. Isso a fez pensar no primeiro caso no qual ela trabalhou no qual os temas de crucificação foram utilizados─um caso no Nebraska que eventualmente a fez ter contato com o FBI.
O Assassino do Espantalho, ela pensou. Deus, algum dia eu vou ser capaz de deixar isso no pé da minha memória?
Atrás dela, o sol começou a nascer, lançando os primeiros raios de luz no dia. Enquanto as sombras dela surgiam devagar nos degraus da igreja, ela tentou ignorar o fato que parecia quase uma cruz.
Novamente, memórias do Assassino do Espantalho embaçaram sua mente.
Talvez seja dessa vez, ela pensou esperançosa. Talvez, quando eu fechar esse caso, as memórias daquelas pessoas crucificadas nos campos de milho vão parar de assombrar minha memória.
Mas enquanto ela olhava novamente para as portas manchadas de sangue da Pedra Angular Presbiteriana, ela temeu que não fosse mais que um pensamento desejoso.
CAPÍTULO TRÊS
Mackenzie aprendeu bastante sobre o Reverendo Ned Tuttle na próxima meia hora. Para começar, ele deixou para trás dois filhos e uma irmã. Sua esposa terminou com ele oito anos atrás, mudando-se para Austin, Texas, com um homem com o qual ela esteve tendo um caso por mais de um ano antes de vir a tona. Ambos os filhos moravam na área de Georgetown, levando a Mackenzie e Ellington para a sua primeira parada do dia. Era um pouco depois de 6:30 quando Mackenzie estacionou seu carro ao lado da calçada no exterior do apartamento de Brian Tuttle. De acordo com o agente que deu a notícia, ambos os irmãos estavam por lá, esperando fazer o que podiam para responder a perguntas sobre a morte do pai.
Quando Mackenzie entrou no apartamento de Brian Tuttle, ficou um pouco surpresa. Ela esperava ver dois filhos em profundo pesar, dilacerados pela perda do devotado pai. Pelo contrário, ela os viu sentados a uma pequena mesa de jantar na cozinha. Ambos estavam bebendo café. Brian Tuttle, vinte e dois anos de idade, estava comendo uma tigela de cereal enquanto Eddie Tuttle, de dezenove anos, estava distraidamente despejando um Eggo waffle em uma poça de calda.
"Eu não sei exatamente o que vocês acham que nós podemos oferecer a vocês," disse Brian. "Nós não estávamos exatamente nos melhores termos com o pai."
"Posso perguntar por quê?" perguntou Mackenzie.
"Porque nós paramos de nos juntar a ele quando ele se inclinou totalmente para a igreja."
"Vocês não são crentes?" perguntou Ellington.
"Eu não sei," disse Brian. "Acho que sou agnóstico."
"Eu sou crente," disse Eddie. "Mas o pai… ele levava isso para outro nível. Tipo quando ele descobriu que nossa mãe o estrava traindo, ele não fez qualquer coisa. Depois de dois dias lidando com isso, ele perdoou ela e o cara que com o qual ela o traia. Ele disse que ele os perdoou, porque era a coisa cristã a se fazer. E ele se recusou sequer a falar sobre divórcio."
"Sim," disse Brian. "E nossa mãe viu que o pai não dava a mínima para ela─não se importando que ela o traísse. Então ela se foi. E ele não fez muito para impedi-la."
"Seu pai já tentou falar com vocês dois desde que sua mãe deixou?"
"Ah, sim," disse Brian. "Praticamente todas as noites de Sábado, nos implorando para ir para a igreja."
"E além disso," acrescentou Eddie, "ele estava muito ocupado durante a semana mesmo se nós quiséssemos vê-lo. Ele estava sempre na igreja ou em viagens para caridade ou em visitas a doentes em hospitais."
"Quando foi a última vez que algum de vocês falou com ele por um longo período?" perguntou Mackenzie.
Os irmãos se entreolharam por um momento, calculando. "Não tenho certeza," disse Brian. "Talvez um mês. E era nada demais. Ele estava perguntando as mesmas questões: como o trabalho estava indo, se eu já estava namorando alguém, coisas assim."
"Então, é seguro dizer que ambos têm uma relação afastada com o seu pai?"
"Sim," disse Eddie.
Ele olhou abaixo para a mesa por um momento quando o arrependimento começou a afundar nele. Mackenzie havia visto este tipo de reação antes; se ela fosse forçada a apostar, ela estava bem certa de que pelo menos um desses garotos estaria desabando em choro dentro de uma hora, percebendo tudo aquilo que fora perdido em relação ao pai e que eles nunca iriam saber.
"Vocês sabem quem o conheceria bem?" perguntou Mackenzie. "Ele tinha algum amigo íntimo?"
"Apenas aquele padre ou pastor ou sei lá na igreja," disse Eddie. "O que comanda o lugar."
"O pai de vocês não era o reverendo líder?" perguntou Mackenzie.
"Não. Ele era como um pastor associado ou algo assim," disse Brian. "Havia outro cara acima dele. Jerry Levins, eu acho.”
Mackenzie reparou a maneira que os jovens homens estavam misturando a terminologia. Pastor, reverendo, padre… era tudo confuso. Mackenzie, na verdade, nem sabia a diferença, assumindo que isso tinha algo haver com diferenças entre crenças entre denominações.
"E o pai de vocês passava muito tempo com ele?"
"Ah, sim," disse Brian, um pouco irritado. "Todo seu maldito tempo, acho. Se você precisa saber alguma coisa sobre o pai, ele seria aquele para o qual perguntar."
Mackenzie assentiu, bem ciente que não conseguiria qualquer informação útil desses dois jovens rapazes. Ainda assim, ela desejava que tivesse mais tempo para falar com eles. Claramente, havia tensão e perda mais resolvida entre eles. Talvez se eles quebrassem a barreira emocional que os estava mantendo tão calmos, eles teriam mais a oferecer.
No fim, ela se virou e os agradeceu. Ela e Ellington deixaram o apartamento em silêncio. Quando pegaram as escadas para baixo lado a lado, ele tomou a mão dela.
"Você está ok?" ele perguntou.
"Sim," ela disse confusa. "Por quê?"
"Duas crianças… o pai delas acaba de morrer e não estão certas de como lidar com isso. Como toda a especulação sobre o velho caso do seu pai ultimamente… só cogitando."
Ela sorriu para ele, deleitando-se com a maneira edificante que ele fazia seu coração sentir nesses momentos. Deus, ele consegue ser tão doce…
Enquanto andavam para a manhã juntos, ela também percebeu que ele estava certo: a razão pela qual ela desejou ficar mais tempo e continuar falando com eles, era ajudar os irmãos Tuttle a resolver os problemas que eles tiveram com o pai.
Aparentemente, o fantasma do caso recém-aberto do seu pai a estava assombrando mais do que ela percebeu.
***Ver a Igreja Presbiteriana da Pedra Angular na luz da manhã era surreal. Mackenzie dirigiu por lá no caminho para visitar o Reverendo Jerry Levins. Levins morava em uma casa que ficava apenas a meio quarteirão da igreja, algo que Mackenzie havia visto muito durante seu tempo no Nebraska, onde os líderes de pequenas igrejas tendiam a morar bem perto das suas casas de adoração.
Quando chegaram a casa de Levins, havia numerosos carros estacionados ao longo da rua e na sua entrada da garagem. Ela assumiu que eram, provavelmente, membros da Pedra Angular passando para buscar consolo ou oferecer conforto ao Reverendo Levins.
Quando Mackenzie bateu na porta da frente da modesta e pequena casa de tijolos, foi respondida imediatamente. A mulher na porta estivera claramente chorando. Ela deu uma olhada suspeita em Mackenzie e Ellington até que Mackenzie levantou seu distintivo.
"Nós somos os Agentes White e Ellington do FBI," ela disse. "Gostaríamos de falar com o Reverendo Levins, se ele está em casa".
A mulher abriu a porta e eles entraram em uma casa que estava repleta de fungar e soluçar. Em algum outro lugar dentro da casa, Mackenzie podia ouvir o som de orações murmuradas.
"Eu vou chamá-lo para vocês," disse a mulher. "Esperem aqui, por favor."
Mackenzie observou a mulher voltar pela casa, virar em uma pequena sala de estar onde algumas poucas pessoas estavam de pé na entrada. Depois de alguns barulhos de sussurros, um homem careca e alto veio andando em direção a eles. Como a mulher que respondeu a porta, ele também esteve chorando.
"Agentes," disse Levins. "Posso ajudá-los?"
"Bem, eu sei que é um momento muito tenso e triste para você," disse Mackenzie, "mas nós esperamos conseguir toda informação que pudermos sobre o Reverendo Tuttle. Quanto mais cedo conseguirmos alguma pista, mais rápido podemos pegar quem fez isso."
"Você acha que sua morte está relacionada com a do pobre padre do início desta semana?" Levins perguntou.
"Ainda não sabemos ao certo," disse Mackenzie, embora já estivesse certa de que sim. "E esse é o motivo pelo qual esperamos que você possa falar conosco."
"Claro," disse Levins. "Lá fora no alpendre, porém. Eu não desejo interromper a prece que estamos fazendo aqui."
Ele os conduziu para fora na manhã, onde ele se assentou nos degraus de concreto. "Eu devo dizer, eu não sei o que vocês vão achar sobre o Ned," comentou Levins. "Ele era um crente de postura. Além de alguns problemas com a família, eu desconheço que ele tivesse qualquer coisa parecida com um inimigo."
"Ele tinha amigos na igreja sobre os quais você poderia questionar serem morais ou honestos?" perguntou Ellington.
"Todo mundo era amigo de Ned Tuttle," Levins disse, enxugando uma lágrima de seus olhos. "O homem era perto de um Santo como eles vêm. Ele dava pelo menos vinte e cinco por cento do seu salário como dízimo de volta para a igreja. Ele estava sempre no centro da cidade, ajudando a alimentar e vestir os pobres. Ele cortava a grama para os idosos, reparos domésticos para viúvas, três viagens missionárias para o Quênia todos os anos para ajudar com um ministério médico."
"Você sabe de alguma coisa sobre o passado dele que possa ser sombria?" perguntou Mackenzie.
"Não. E isso é dizer muito, porque eu sei muito sobre o passado dele. Ele e eu, nós compartilhávamos muitas histórias sobre nossas batalhas. E eu posso dizê-los com confiança que entre as poucas coisas pecaminosas que ele experimentou em seu passado, não havia nada que sugerisse ser tratado da maneira que ele foi na noite passada."
"E a respeito de alguém dentro da igreja?" perguntou Mackenzie. "Havia membros da igreja que pudessem ter sido ofendidos por algo que o Reverendo Tuttle fez ou disse?"
Levins pensou sobre isso apenas por um momento antes de balançar sua cabeça. "Não. Se havia tal problema, Ned nunca me contou e eu nunca soube. Mas, novamente… eu posso dizê-los com a maior certeza que ele não tinha inimigos dos quais eu esteja ciente."
"Você sabe se─" começou Ellington.
Mas Levins levantou a mão, como se enxotando o comentário. "Eu sinto muito," ele disse. "Mas eu estou muito triste com a perda do meu bom amigo e eu tenho vários membros da minha igreja em luto lá dentro. Responderei de bom grado quaisquer perguntas que vocês tenham nos próximos dias, mas agora eu preciso reportar a Deus e a minha congregação."
"Claro," disse Mackenzie. "Eu entendo. E eu realmente sinto muito pela sua perda."
Levins conseguiu um sorriso enquanto se colocava de pé. Lágrimas frescas estavam escorrendo pelo seu rosto. "Eu realmente boto fé no que eu disse," ele sussurrou, fazendo o que podia para não desmoronar na frente deles. "Deem-me um dia ou dois. Se há algo mais que vocês precisam perguntar, me informem. Eu gostaria de tomar parte em trazer quem quer que tenha feito isso para a justiça."
Com isso, ele voltou para dentro. Mackenzie e Ellington caminharam de volta para o carro enquanto o sol finalmente tomava seu lugar de direito no céu. Era difícil acreditar que era apenas 8:11.
"E agora?" perguntou Mackenzie. "Alguma ideia?"
"Bem… eu estive acordado por quase quatro horas agora e não tomei café ainda. Parece um bom lugar para começar."
***Vinte minutos depois, Mackenzie e Ellington estavam sentados frente a frente em uma pequena lanchonete. Enquanto tomavam café, olhavam pelos arquivos sobre o Padre Costas que pegaram do escritório de McGrath e pelos arquivos digitais sobre o Reverendo Tuttle que foram enviados para o telefone de Mackenzie.
Além de estudar as fotografias, não havia muito que estudar. Mesmo no caso do Padre Costas, onde havia papelada para revisar, não havia muito a dizer. Ele morreu devido à perfuração no seu pulmão ou a uma incisão profunda na nuca que se foi fundo o suficiente para revelar vislumbres brancos da sua espinha.
"Então, de acordo com esse relatório," disse Mackenzie, "as feridas no corpo do Padre Costas foram, provavelmente, o que o matou. Provavelmente, ele estava morto antes de ser crucificado."
"E isso significa alguma coisa?" perguntou Ellington.
"Acho que há uma boa chance. Está claro que há algum ângulo religioso aqui. O mero assunto de crucificação suporta isso. Mas há uma grande diferença entre usar o ato de crucificação como uma mensagem e usar a imagem de crucificação."
"Acho que estou seguindo," disse Ellington. "Mas pode continuar explicando."
"Para os cristãos, a imagem de crucificação seria realmente apenas uma má representação. Nos nossos casos, morte como um resultado da crucificação não parece ser o objetivo. Se esse fosse o caso, os corpos provavelmente estariam quase livres de lesões. Pense sobre isso… toda a cristandade seria bem diferente se Cristo já estivesse morto quando ele foi pregado a cruz."
"Então você acha que o assassino está crucificando esses homens apenas para exibição?"
"Muito cedo para dizer," disse Mackenzie. Ela fez uma pausa longa o suficiente para tomas um gole bem aventurado de café. "Estou inclinada para o não, contudo. Ambos os homens eram chef… líderes de uma igreja de uma forma ou de outra. Exibi-los pendurados como a figura cristã ao redor da qual as igrejas giravam ao redor é um grande sinal. Há algum motivo por trás de tudo".
"Você se referiu a Jesus Cristo como uma figura cristã. Achei que você acreditasse em Deus."
"Acredito," disse Mackenzie. "Mas não com a força e convicção que alguém como Ned Tuttle tem. E quando entra nas histórias da Bíblia─a cobra falante, a arca, o tintim por tintim da crucificação─eu acho que a fé tem que tomar o banco traseiro e se basear em algo mais próximo a crença cega. E eu não fico confortável com isso."
"Uau," disse Ellington com um sorriso. "Isso é profundo. Eu… eu só prefiro ir com a resposta de não sei. Então… quanto o motivo que você mencionou. Como nós o encontramos?" perguntou Ellington.
"Boa pergunta. Eu planejo começar com a família do Padre Costas. Não há muito para seguir nos relatórios. Além disso, eu acho—"
Ela foi interrompida pelo toque do telefone de Ellington. Ele o pegou rapidamente e franziu a testa com o que viu no visor. "É McGrath," ele disse antes de responder.
Mackenzie escutou o lado de Ellington da conversa, incapaz de colocar junto o que estava sendo ouvido. Depois de menos de um minuto, Ellington terminou a ligação e enfiou o celular de volta na bolsa.
"Bem," ele disse. "Parece que você vai visitar a família Costas por conta própria. McGrath precisa de mim no escritório. Algum trabalho de detalhe em um caso que ele está mantendo segredo."
"O que provavelmente significa que é trabalho braçal," disse Mackenzie. "Sortuda você.”
"Ainda… parece estranho que ele me arranque disso tão cedo quando nós não temos nenhuma pista. Deve significar que ele tem uma confiança imensa em você de repente."
"E você não?"
"Você sabe o que eu quis dizer," disse Ellington sorrindo.
Mackenzie tomou outro gole de café, um pouco decepcionada ao ver que já estava vazio. Ela jogou o copo no lixo e coletou os arquivos e seu celular, pronta para ir para a próxima parada. Primeiro, porém, ela se dirigiu ao balcão para pedir outro café.
Parecia que seria um dia muito longo. E sem Ellington para mantê-la desperta, ela definitivamente precisava de café.
Então, novamente, dias longos normalmente resultavam em pistas─em produtividade. E se Mackenzie achasse um caminho, ela encontraria o assassino antes que ele tivesse tempo suficiente para planejar outro assassinato.
CAPÍTULO QUATRO
Depois de deixar Ellington na garagem dos escritórios do FBI (e de dar um rápido, porém apaixonado beijo antes de sair), Mackenzie fez seu caminho para a Igreja Católica do Sagrado Coração. Ela não esperava encontrar muita coisa, então não ficou desapontada quando isso foi exatamente o que estava esperando por ela.
As portas haviam sido trocadas, mas pareciam réplicas exatas daquelas que ela havia visto na foto da cena do crime. Ela subiu as escadas, estas muito mais sofisticadas e ornadas do que aquelas da Pedra Angular Presbiteriana, e foi até as novas portas. Então, deu as costas para as portas e olhou de volta para a rua. Ela não podia deixar de imaginar se havia algum simbolismo a mais em pregar os homens nas portas da frente.
Talvez eles devessem estar olhando em direção a algo, pensou Mackenzie. Mas tudo que ela estava vendo eram carros estacionados, alguns pedestres e placas de trânsito.
Ela olhou para seus pés ao longo das bordas do portal. Havia pequenas formas preenchidas que poderiam ser qualquer coisa. Mas ela havia visto essas cores antes─a cor de sangue uma vez que seca no concreto pálido.
Olhou de volta para os degraus e tentou imaginar um homem trazendo um cadáver acima deles. Seria um trabalho, isso era certeza. É claro, ela não sabia ao certo se Costas estava morto quando foi pregado à porta, embora essa fosse a hipótese de trabalho.
Enquanto ela ficava de pé às portas e olhava ao redor, ela percorreu os fatos que ela sabia pelos arquivos. Os mesmos tipos de pregos foram usados aqui e na cena de Tuttle. O único ferimento comum nos dois corpos era um grande corte que corria o comprimento de suas testas─talvez uma alusão à coroa de espinhos de Cristo.
Imaginar tal terrível visão no alpendre no qual ela estava era difícil de imaginar. As pessoas normalmente não pensavam em morte e sanguinolência quando estavam de pé às portas de uma igreja.
E talvez esse fosse o ponto. Talvez essa seja a ligação com o motivo do assassino.
Sentido que poderia estar em alguma coisa, Mackenzie pegou as escadas de volta para a rua. Parecia estranho se deslocar nesse ritmo sem Ellington ao seu lado, mas pelo tempo que ela estava no carro e seguindo em frente, sua mente estava apenas no caso.
***Pela segunda vez no dia, Mackenzie se viu entrando em uma casa lotada. Padre Costas morava em uma casa agradável, uma residência de tijolos de dois andares logo ao redor da região central. Ela foi recebida por uma mulher que se apresentou como uma paroquiana do Sagrado Coração. Ela levou Mackenzie em uma área de espera e pediu que ela aguardasse por um momento.
Em questão de segundos, uma mulher mais velha entrou na sala. Ela parecia exausta e profundamente triste quando se sentou em uma poltrona em frente ao assento que Mackenzie havia tomado no sofá ornado.
"Sinto muito em incomodá-la," disse Mackenzie. Eu não sabia que você tinha tanta companhia.
"Sim, eu também não fazia ideia," disse a mulher. "Mas o funeral é hoje a noite e há todas essas pessoas saindo da toca. Membros da família, conhecidos, queridos colegas da igreja." Então, ela sorriu sonolenta e acrescentou: "Sou Nance Allensworth, secretária da paróquia. Disseram-me que você é do FBI?"
"Sim, senhora. Com risco de perturbá-la um pouco mais, houve outro corpo descoberto essa manhã, tratado da mesma maneira que o Padre Costas. Esse era um reverendo em uma pequena igreja Presbiteriana perto de Georgetown."
Nancy Allensworth levou a mão a boca em um dramático gesto de oh, não. "Meu Deus," ela disse. Em seguido, entre lágrimas e dentes serrados, ela sibilou, "Que se tornou esse mundo miserável?"
Fazendo seu melhor para pressionar, Mackenzie continuou. "Obviamente, nós temos razão para acreditar que pode acontecer de novo se já aconteceu duas vezes. Então, tempo é fundamental. Eu estava esperando que você pudesse responder algumas perguntas para mim."
"Eu posso tentar", ela disse, mas estava claro que estava lutando para manter suas emoções sob controle.
"Porque a Sagrado Coração é uma igreja relativamente grande, eu estava cogitando se pudesse haver alguém dentro da congregação que pudesse ter abordado o Padre Costas com uma reclamação ou queixa."








