Antes Que Ele Precise

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Era vertiginoso de certa forma, entrar no quarto de uma casa impecável para ver todo aquele sangue na cama. O piso era de madeira, mas Mackenzie podia ver respingos de sangue aqui e ali. Não havia tanto sangue nas paredes aqui como na residência do casal Kurtz, mas havia algumas gotículas, como uma pintura abstrata mórbida.
Havia um leve odor de cobre no ar, o aroma de sangue derramado secando. Era fraco, mas parecia encher o lugar. Mackenzie caminhou ao redor da borda da cama, olhando para os lençóis cinza claro que tinham sido profundamente manchados de vermelho. Viu uma única marca no lençol de cima que poderia ter sido a consequência de uma facada. Ela observou isso mais perto e descobriu que era exatamente o que estava procurando.
Com uma única volta em torno da cama, Mackenzie tinha certeza de que não havia nada aqui que levaria o caso a diante. Olhou em outros lugares ao redor do quarto—mesas de cabeceira, as gavetas, e para a pequena estante—procurando pelo mais ínfimo pormenor.
Viu um suave entalhe na parede, não era maior do que uma moeda de vinte e cinco centavos. Mas não havia mancha de sangue em torno dele. Havia mais sangue por baixo, um ligeiro fluxo que tinha secado sobre a parede e uma mancha menor no tapete sob o entalhe.
Ela foi até o entalhe na parede e olhou para ele de perto. Era uma forma peculiar, e o fato de que havia sangue centrado em torno dele a fez pensar que um era o resultado do outro. Ela se endireitou e verificou o alinhamento do pequeno buraco com o seu corpo. Ela levantou o braço um pouco e o inclinou. Ao fazer isso, seu cotovelo ficou alinhado com aquele orifício quase que perfeitamente.
—O que você achou? Perguntou Harrison.
–Os sinais de uma luta, eu acho, respondeu ela.
Ele se juntou a ela e tomou nota do entalhe. Não há muito para irmos em frente, não é? Ele perguntou.
—Não, de fato não. Mas o sangue torna a situação notável. Isso e o fato de que esta casa está em bom estado. Isso me faz pensar que o assassino fez tudo o que podia para ocultar quaisquer sinais de luta. Ele quase arrumou a casa, de certa forma. Mas este sinal de luta não pôde ser
escondido.
Olhou para a pequena mancha de sangue no carpete. A mancha estava desbotada e havia até mesmo traços muito leves de vermelho em torno dela.
—Veja, disse ela, apontando. Bem ali, parece que alguém tentou limpar isso. Mas ele estava com pressa ou este último pedacinho não foi visto.
—Talvez nós deveríamos verificar de novo a casa Kurtz, então.
–Talvez, ela concordou, embora se sentisse confiante de que tinha analisado o lugar exaustivamente.
Ela deu um passo para longe da parede e foi para a enorme closet. Olhou dentro dele e viu mais organização.
Viu sim uma única coisa que poderia ser considerada como bagunça dentro daquela casa. Uma camisa e uma calça que estavam amassadas, empurradas quase contra a parede do armário. Ela puxou a camisa para longe das calças e viu que eram roupas masculinas, talvez as últimas roupas que Gerald Sterling tinha usado.
Ela foi até cada um dos bolsos da frente. Em um deles, ela encontrou dezessete centavos. No outro, ela encontrou um recibo amassado. Ela o abriu e viu que era de uma mercearia há cinco dias… o último dia de sua vida. Olhou para o recibo e começou a pensar.
Como podemos descobrir o que eles fizeram nos seus últimos dias de vida? Ou na última semana, ou até mesmo no último mês?
–Harrison, nesses relatórios, o DP de Miami verificou nos telefones dos falecidos todos os sinais de alerta?
—Está certo, Harrison disse quando ele cautelosamente pisou em torno da cama sangrenta. Contatos, chamadas recebidas e efetuadas, e-mails, downloads, tudo.
–Mas nada como um histórico de pesquisa na internet ou qualquer coisa assim?
–Não, não que eu me lembre.
Colocando o recibo de volta no jeans, Mackenzie saiu do armário e, em seguida, do quarto. Ela voltou lá embaixo, ciente de que Harrison estava seguindo atrás dela.
–O que é isso? Perguntou Harrison.
–Um palpite, disse ela. Uma esperança, talvez.
Ela caminhou de volta para a mesa na área e abriu-a novamente. Na parte de trás, havia uma pequena cesta. Algumas canetas presas do lado de fora, assim como um único talão de cheques. Se eles mantinham uma casa tão arrumada, eu diria que os cheques deles estavam na mesma condição.
Pegou o talão de cheques e descobriu que estava correta. Os números foram mantidos com um cuidado meticuloso. Cada transação foi escrita de forma muito legível e com o máximo de detalhes possível.
Até mesmo saques em caixa eletrônico foram contabilizados. Demorou cerca de vinte segundos para perceber que este talão de cheques era um tipo de conta secundária e não a principal conta dos Sterlings. No momento da morte deles, a conta tinha pouco mais de sete mil dólares.
Olhou através do registro de verificação para conseguir qualquer coisa que pudesse lhe dar algum tipo de pista, mas nada teve destaque para ela. Ela, no entanto, viu algumas abreviaturas que não reconheceu. A maioria das transações para eram para valores de cerca de sessenta a duzentos dólares. Uma das que não reconheceu era de dois mil dólares.
Enquanto nada no registo parecia interessante, ela permaneceu focada nas abreviaturas e iniciais com as quais não estava familiarizada. Ela tirou algumas fotos desses registros com seu telefone e, em seguida, devolveu o talão de cheques para o lugar em que se encontrava.
—Você tem uma ideia ou algo assim? Perguntou Harrison.
–Talvez, disse ela. Você poderia ligar para a Dagney e pedir para que alguém puxe os registros financeiros dos Sterlings ao longo do último ano? Contas correntes, cartões de crédito, até mesmo PayPal, se eles usavam isso.
—Claro, disse Harrison. Ele imediatamente pegou o seu telefone para completar a tarefa.
Eu não me importaria de trabalhar com ele, pensou Mackenzie.
Ela o ouviu falando com Dagney enquanto fechava a mesa e olhou para trás em direção às escadas.
Alguém andou até as escadas quatro noites atrás e matou um casal, ela pensou, tentando imaginar isso. Mas, por quê? E, novamente, por que não havia sinais de invasão?
A resposta era simples: Assim como com os Kurtzes, o assassino foi convidado. E isso significa que eles sabiam quem era o assassino e deixaram ele entrar ou o assassino —encenou— em determinada parte… agindo como alguém que eles conheciam ou alguém que precisava de ajuda…
A teoria parecia frágil, mas sabia que havia algo. No mínimo, isso criava um vínculo frágil entre os dois casais.
E por agora, isso era o suficiente para irem em frente.
CAPÍTULO SEIS
Enquanto ela esperava não ter que falar com as famílias dos falecidos, Mackenzie estava cumprindo os afazeres de sua lista de tarefas mais rápido do que ela esperava. Depois de deixar a casa dos Sterlings, naturalmente, o próximo lugar para se conseguir respostas era a casa dos parentes mais próximos. No caso dos Sterlings, a familiar mais próxima era uma irmã que morava a menos de dezesseis quilômetros da moradia dos Kurtzes. O resto da família vivia no Alabama.
Os Kurtzes, no entanto, tinham muitos familiares nas proximidades. Josh Kurtz não se mudou para muito longe de casa, vivendo a cerca de trinta e dois quilômetros não só da casa de seus pais, mas também de sua irmã. E já que o DP de Miami já havia falado bastante com os Kurtzes no início do dia, Mackenzie optou por falar com a irmã de Julie Kurtz.
Sara Lewis parecia mais do que feliz em se encontrar com eles, e embora a notícia sobre a morte de sua irmã tivesse sido dada há menos de dois dias, ela parecia ter se conformado, da maneira como uma pessoa de vinte e dois anos consegue se conformar.
Sara convidou ambos para entrar em sua casa em Overtown, uma pitoresca casa de um andar que era um pouco mais do que um pequeno apartamento. A casa era pouco decorada e tinha aquela espécie de silêncio irritante que Mackenzie havia sentido em tantas outras casas onde alguém estava lidando com uma perda recente. Sara sentou-se na borda de seu sofá, com uma caneca de chá nas mãos. Ficou claro que ela tinha chorado recentemente; ela também parecia não ter dormido muito.
—Suponho que se o FBI está envolvido, disse ela, —isso significa que houve mais assassinatos?
–Sim, houve, Harrison disse ao lado de Mackenzie. Ela franziu a testa brevemente, desejando que ele não tivesse tanta boa vontade em divulgar aquela informação.
—Mas, Mackenzie disse, interrompendo antes Harrison pudesse continuar, —nós, claro, não podemos fazer quaisquer afirmações sólidas sobre uma conexão sem uma investigação completa. E é por isso que fomos chamados.
—Eu vou ajudar o quanto puder, disse Sara Lewis. Mas eu já respondi às perguntas da polícia.
–Sim, eu entendo, e eu agradeço por isso, disse Mackenzie. Eu só quero cobrir algumas coisas que eles podem ter deixado para trás. Por exemplo, você por acaso tem alguma ideia de como a sua irmã e seu cunhado estavam financeiramente?
Ficou claro que Sara pensava que era uma pergunta estranha, mas ela fez o seu melhor para responder. Ok, suponho que sim. Josh tinha um bom emprego e eles realmente não gastavam muito dinheiro. Julie, às vezes, me repreendia, por gastar muito levianamente. Quero dizer, eles certamente não eram ricos… não pelo que eu sei. Mas viviam bem.
—Agora há pouco, um vizinho nos disse que Julie gostava de desenhar. Era apenas um hobby ou estava ganhando dinheiro com isso?
–Mais hobby, disse Julie. Era muito boa, mas sabia que não era nada de espetacular, sabe?
–E seus ex-namorados? Ou talvez ex-namoradas de Josh?
—Julie teve alguns, mas nenhum deles causou problemas. Além disso, todos eles vivem do outro lado do país. Eu sei que dois deles são casados. Quanto ao Josh, eu não acho que haveria qualquer ex envolvida. Quero dizer… inferno, eu não sei. Eles eram apenas um ótimo casal. Estavam realmente bem juntos—repugnantemente fofos em público. Esse tipo de casal.
A visita parecia muito breve para acabar, mas Mackenzie tinha apenas uma outra rota para perseguir e não tinha certeza de como se referir a ela sem ser repetitiva. Ela pensou nas estranhas transações no talão de cheques dos Sterlings, ainda incapaz de entendê-las.
Provavelmente nada, pensou. Pessoas usam seus talões de cheques de forma diferente, é só isso. Ainda assim, vale a pena analisar.
Pensando nas abreviaturas que ela tinha visto no talão de cheques dos Sterlings, Mackenzie continuou. Quando abriu a boca para falar, ela ouviu o telefone de Harrison vibrando no bolso dele. Ele rapidamente verificou a tela, em seguida, ignorou a chamada. Desculpem-me, disse ele.
Ignorando a perturbação, Mackenzie perguntou: —Você por acaso sabe se Julie ou Josh estavam envolvidos com qualquer tipo de organização ou talvez até mesmo clubes ou academias? O tipo de lugar em que eles rotineiramente pagariam taxas?
Julie pensou sobre isso por um momento, mas balançou a cabeça. Não que eu saiba. Como eu disse… eles realmente não gastavam muito dinheiro. A única taxa mensal que eu sei que Julie pagava, fora as contas, era a sua conta do Spotify, e isso custa apenas dez dólares.
—E você tem sido contatada por alguém, como um advogado, sobre o que aconteceu com as finanças deles? Perguntou Mackenzie. Sinto muito por perguntar isso, sei que posso estar pressionando.
—Não, ainda não, disse ela. Eles eram tão jovens, eu não sei mesmo se eles tinham um testamento. Merda… Eu acho que tenho que olhar tudo isso, não é?
Mackenzie ficou de pé, incapaz de responder à pergunta. Mais uma vez obrigada por falar conosco, Sara. Por favor, se você pensar em algo mais em relação às perguntas que eu lhe fiz, eu agradeceria se puder me ligar.
Com isso, ela entregou Sara um cartão de visita. Sara pegou o cartão e o guardou enquanto os levava até a porta. Não estava sendo rude, mas estava claro que ela queria que eles fossem embora o mais rápido possível.
Com a porta fechada atrás deles, Mackenzie encontrou-se de pé na varanda de Sara com Harrison. Ela considerou corrigi-lo rapidamente por ter deixado Sara saber que houve mais assassinatos e que poderiam estar relacionados com o assassinato de sua irmã. Mas tinha sido um erro motivado pela sinceridade, algo que ela tinha feito uma ou duas vezes no começo. Então, ela deixou isso passar.
—Posso te perguntar uma coisa? Perguntou Harrison.
–Claro, disse Mackenzie.
—Por que você estava tão focada nas finanças? Isso tem algo a ver com o que você viu na casa dos Sterlings?
—Sim. É apenas um palpite por enquanto, mas algumas das transações estavam–
O telefone de Harrison começou a vibrar novamente. Ele pegou-o do bolso com um olhar envergonhado em seu rosto. Ele verificou a tela, quase ignorando-a, mas em seguida, manteve o objeto nas mãos enquanto eles caminhavam de volta para o carro.
—Desculpe-me, eu tenho que atender, disse ele. É minha irmã. Ela ligou enquanto estávamos lá dentro, também. O que é estranho.
Mackenzie não lhe deu tanta atenção ao entrar no carro. Ela mal estava ouvindo o final da conversa de Harrison quando ele começou a falar. No entanto, até o momento em que ela puxou o carro de volta para a rua, ela podia dizer pelo seu tom de voz que algo estava muito errado.
Quando ele terminou a chamada, havia uma expressão de choque em seu rosto. Seu lábio inferior tinha uma espécie de curva, algo entre uma careta e um franzir de rosto.
–Harrison?
—Minha mãe morreu esta manhã, disse ele.
–Ah meu Deus, disse Mackenzie.
–Ataque cardíaco… assim. Ela–
Mackenzie poderia dizer que ele estava lutando para não romper em lágrimas. Ele virou a cabeça para longe dela, olhando para fora da janela do lado do passageiro, e começou a desabafar.
–Eu sinto muito, Harrison, disse ela. Vamos levá-la de volta para casa. Vou marcar o seu voo agora. Você precisa de qualquer outra coisa?
Ele só fez um breve aceno de cabeça, ainda olhando para longe dela enquanto chorava um pouco mais abertamente.
Mackenzie primeiro ligou para Quantico. Não conseguiu falar com McGrath ao telefone, então ela deixou uma mensagem com a recepcionista dele, deixando-a saber o que tinha acontecido e que Harrison pegaria um voo de volta para DC o mais rápido possível. Ela então ligou para a companhia aérea e pegou o primeiro voo disponível, que partia em três horas e meia.
No momento em que o voo foi reservado e ela terminou a chamada, o telefone tocou. Olhando para o Harrison com um olhar simpático, ela respondeu a ligação. Parecia terrível voltar a sua atenção para uma mentalidade de trabalho após a notícia de Harrison, mas ela tinha um trabalho para fazer —e ainda não havia pistas sólidas.
—Sou a Agente White, disse ela.
–Agente White, sou a oficial Dagney. Eu pensei que você iria gostar de saber que temos uma potencial pista.
—Potencial? Ela perguntou.
—Bem, certamente ele se encaixa no perfil. Este é um cara que tem passagens por várias invasões de domicílio, duas das quais incluíam violência e agressão sexual.
–Nas mesmas áreas dos Kurtzes e dos Sterlings?
—É onde a coisa fica promissora, disse Dagney. Um dos casos que envolviam agressão sexual aconteceu no mesmo conjunto de casas onde os Kurtzes viviam.
—Nós temos um endereço do cara?
—Sim. Ele trabalha em uma oficina de carros. Uma pequena oficina. E nós temos a confirmação de que ele está lá agora. O nome dele é Mike Nell.
—Envie-me o endereço e eu terei uma conversa com ele. E algo sobre os registros financeiros solicitados pelo Harrison? Perguntou Mackenzie.
—Ainda não. Nós temos alguns caras trabalhando nisso, no entanto. Não deve demorar
muito.
Mackenzie encerrou a chamada e fez o seu melhor para deixar que Harrison tivesse o seu momento de dor. Ele já não estava chorando, mas claramente tinha que fazer um esforço para se manter firme.
—Obrigado, disse Harrison, enxugando uma lágrima em seu rosto.
–Pelo quê? Perguntou Mackenzie.
Ele encolheu os ombros. Ligou para McGrath e o aeroporto. Lamento, este é um incômodo imenso no meio do caso.
–Não é, disse ela. Harrison, eu sinto muito pela perda.
Depois disso, o carro caiu em silêncio e querendo ou não, a mente de Mackenzie voltou para o modo trabalho. Havia um assassino em algum lugar lá fora, aparentemente com algum tipo estranho de vingança para casais felizes. E ele poderia estar à sua espera neste exato momento.
Mackenzie mal podia esperar para conhecê-lo.
CAPÍTULO SETE
Deixar o Harrison no hotel era doce e amargo ao mesmo tempo. Ela queria poder fazer mais por ele ou, no mínimo, oferecer algumas palavras mais reconfortantes. Ao final, no entanto, ela só lhe deu um aceno sem entusiasmo quando ele entrou no seu quarto para arrumar suas coisas e chamar um táxi para levá-lo ao aeroporto.
Quando sua porta se fechou, Mackenzie colou o endereço que Dagney enviou no GPS. A oficina Lipton Auto Garage estava exatamente a dezessete minutos do hotel, uma distância que ela começou a percorrer imediatamente.
Estar sozinha no carro era estranho, mas ela novamente se distraiu com o cenário de Miami. Era diferente de qualquer outra cidade praiana em que ela esteve. As cidades menores situadas à beira da praia pareciam um pouco arenosas e quase desbotadas, mas tudo em Miami parecia brilhar apesar da areia tão próxima e da brisa salgada do oceano. De vez em quando, ela via um edifício que parecia fora de lugar, negligenciado e desamparado—um lembrete de que tudo tinha suas imperfeições.
Chegou à garagem mais cedo do que esperava, sendo distraída pelas paisagens da cidade. Ela estacionou em um pátio que estava superlotado com carros e caminhões que foram obviamente desmontados para a retirada de peças sobressalentes. Parecia o tipo de operação que estava praticamente em estado de quase falência.
Antes de entrar no lugar, ela fez uma rápida análise do lugar. Havia uma fachada de escritório aos pedaços e que atualmente estava abandonada. A oficina anexa possuía três entradas, apenas uma delas continha um carro; ele estava suspenso, mas não parecia estar sendo consertado. Na garagem, um homem estava revirando uma caixa de ferramentas em forma de prateleira. Outro estava na parte de trás da garagem, de pé em uma pequena escada e revirando uma série de caixas velhas de papelão.
Mackenzie foi até o homem mais próximo dela, o que estava revirando a caixa de ferramentas. Ele parecia estar se aproximando dos quarenta anos, com cabelos oleosos que desciam até os ombros. Os pêlos em seu rosto não eram uma barba. Quando ele olhou para ela se aproximando, ele abriu um grande sorriso.
—Ei, querida, disse ele com um pouco de sotaque sulista. Como posso ajudá-la hoje?
Mackenzie lançou seu distintivo. Você pode parar de me chamar de querida em primeiro lugar. Então, você pode dizer-me se é Mike Nell.
—Sim, sou eu, disse ele. Ele estava olhando para o distintivo dela com um sentimento parecido com medo. Ele então olhou para o rosto dela, como se estivesse tentando decifrar se aquilo era parte de alguma brincadeira.
–Sr. Nell, eu gostaria que você–
Ele se virou rapidamente e empurrou-a. Forte. Ela tropeçou para trás e seus pés atingiram um pneu que estava deitado no chão. Quando perdeu o equilíbrio e foi caindo para trás, viu Nell fugindo. Ele estava saindo da oficina, correndo e olhando por cima do ombro.
Isso se intensificou rapidamente, ela pensou. Ele tinha certeza que ele era culpado de alguma coisa.
Seus instintos queriam que ela pegasse a arma. Mas isso causaria alarde. Então ela se levantou e iniciou a perseguição. No entanto, quando se levantou, sua mão caiu sobre outra coisa que havia sido deixada no chão. Era uma chave de roda—possivelmente a chave que tinha tirado o pneu no qual ela tinha caído.
Pegou-a e rapidamente se levantou. Ela correu para a frente da garagem e viu Nell na calçada, prestes a atravessar a rua. Mackenzie olhou rapidamente para ambos os sentidos, viu que não havia carros por perto, e puxou o braço para trás.
Ela lançou a chave de roda através do ar com toda força que podia. Ele lançou a chave e cobriu os cinco metros que a separavam de Nell, atingindo-o em cheio nas costas. Ele soltou um grito de surpresa e dor antes de cambalear para a frente e cair de joelhos, quase plantando o rosto na lateral da rua.
Ela correu atrás dele, jogando um joelho em suas costas antes que ele pudesse sequer pensar em ficar de pé novamente.
Ela prendeu os braços dele para trás e empurrou para baixo. Ele tentou se contorcer, mas então percebeu que tentar fugir só causaria mais dor, pois seus ombros estavam esticados para trás. Com uma rapidez que ela vinha praticando há meses, ela puxou o par de algemas de seu cinto e bateu com ele em torno do pulso de Nell.
—Isso foi estúpido, disse Mackenzie. Eu só queria fazer algumas perguntas… e você me deu a resposta que eu estava procurando.
Nell não disse nada, mas ele acabou aceitando que não poderia fugir dela. Enquanto os carros passavam, o outro homem da oficina veio correndo.
—Que diabos é isso? Perguntou.
–Sr. Nell acabou de atacar uma Agente do FBI, disse Mackenzie. Receio que ele não será capaz de terminar o expediente para você.
***Mackenzie observou Mike Nell por trás do duplo espelho da sala de observação. Ele parecia provocado e envergonhado—uma carranca tinha permanecido em seu rosto desde quando Mackenzie o puxou e algemou na frente do seu chefe. Ele mastigava nervosamente o lábio, uma indicação de que ele provavelmente estava ansioso para ter um cigarro ou uma bebida.
Mackenzie desviou o olhar para estudar o arquivo em suas mãos. Tinha uma breve, mas conturbada história sobre Mike Nell, um adolescente fugitivo aos dezesseis anos, preso por furto e assalto agravado pela primeira vez aos dezoito anos. Os últimos doze anos da sua vida pintavam o retrato de um conturbado perdedor—assalto, roubo, invasão de domicílio, algumas passagens pela prisão.
Ao lado de Mackenzie, Dagney e o Comandante Rodriguez olharam para Nell com um certo desprezo.
–Acho que você já lidou muito com ele no passado, certo? Perguntou Mackenzie.
—Sim, disse Rodriguez. E de alguma forma, os tribunais continuam batendo algemas nos pulsos dele e é só isso. A sentença mais longa que ele cumpriu foi a que ele acabou em liberdade condicional, e foi uma sentença de um ano. Se este idiota for responsável por esses assassinatos, os tribunais terão que enfiar o rabo entre as pernas.
Mackenzie entregou o relatório a Dagney e deu um passo em direção à porta. Bem, então vamos ver o que ele tem a dizer, disse ela.
Ela saiu de lá e ficou no corredor por um momento antes de sair para interrogar Mike Nell. Pegou o telefone, olhou-o para ver se tinha recebido uma mensagem de texto de Harrison. Ela presumiu que ele estaria no aeroporto agora, talvez falando com outros membros da família para ter uma ideia melhor do que estava acontecendo em casa. Ela realmente sentiu pena dele e mesmo não o conhecendo tão bem, ela desejava que houvesse algo que ela pudesse fazer por ele.
Deixando suas emoções de lado por um momento, ela colocou o telefone no bolso e entrou na sala de interrogatório. Mike Nell olhou para ela e não se incomodou em esconder o olhar de desprezo. Mas agora havia algo mais, também. Ele nem tentou esconder o fato de que estava comendo ela com os olhos, seus olhos demoravam mais tempo do que o necessário olhando para ela, especialmente, nos quadris de Mackenzie.
—Vê algo que você gosta, o Sr. Nell? Ela perguntou quando se sentou.
Claramente perplexo com a pergunta, Nell riu nervosamente e disse: —Acho que sim.
—Eu suponho que você sabe que está em apuros por ter colocado suas mãos em uma Agente do FBI, mesmo que tenha sido apenas um empurrão.
—E sobre o seu pequeno truque chave de roda? Perguntou.
—Você teria preferido a minha arma? Um tiro certeiro na panturrilha ou no ombro para








