Antes Que Ele Sinta

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Ele parecia estar no início dos seus vinte anos─cabelos crespos sem pentear e o tipo de aspecto mole que fazia Mackenzie pensar que qualquer trabalho que ele já tenha feito fora atrás de uma mesa. Ele era bonitinho na maneira de um garoto de fraternidade e estava à beira de sua animação ou nervosismo em ter um agente do FBI realmente batendo em sua porta.
Ele a convidou para entrar e ela viu que o interior do apartamento era tão agradável e moderno quanto o exterior. A área de estar, cozinha e área de estudos eram todas um único cômodo amplo, separadas por pequenas divisões ornamentais e banhadas com luz solar natural que era derramada por duas amplas janelas em paredes opostas.
"Hum… posso trazer um café ou alguma outra coisa para você?" ele perguntou. "Eu ainda tenho um pouco sobrando na minha garrafa da manhã."
"Café realmente seria ótimo," ela disse.
Ela o seguiu até a cozinha, onde ele serviu uma xícara de café e a entregou. “Creme? Açúcar?”
"Não, obrigado," ela disse. Ela tomou um gole, achou muito bom e foi ao ponto. "Sr. Huston, você muitas vezes é voluntário no Lar para Cegos Wakeman, estou correta?"
"Sim."
"Com qual frequência?"
"Depende da minha carga de trabalho, na verdade. Algumas vezes eu só posso ir até lá uma ou duas vezes no mês. Porém, houve meses nos quais eu consegui ir uma vez por semana.”
“E recentemente?” perguntou Mackenzie.
"Bem, estive lá na segunda-feira dessa semana. Semana passada eu fui na quarta-feira e na semana anterior eu fui lá na segunda-feira e na sexta-feira, eu acho. Eu posso mostrar meu horário a você."
"Talvez depois," ela disse. "Conversando com Randall Jones, eu descobri que você vai para jogar jogos de tabuleiro e talvez ajudar a mover os móveis e a limpar. Isso está correto?"
"Sim, é isso mesmo. De vez em quando eu leio para eles também.”
"Eles? Para quais residentes em particular você leu ou jogou jogos de tabuleiro nas últimas duas semanas?"
“Alguns. Há um senhor mais velho que atende pelo nome de Percy, com o qual eu joguei Apples to Apples. Pelo menos um cuidador tem que jogar também… para sussurrar as cartas para ele. E na semana passada, eu conversei um pouco com Ellis Ridgeway sobre música. Eu também li para ela por um tempo."
"Você sabe quando você passou esse tempo com Ellis?"
"Nas duas últimas viagens até lá. Segunda-feira, eu a coloquei para escutar Brian Eno. Nós conversamos sobre música clássica e eu li um artigo on-line para ela sobre algumas maneiras que música clássica é usada para estimular o cérebro."
Mackenzie assentiu, sabendo que era tempo de jogar sua maior carta na mesa. "Bem, eu odeio ter que contar isso a você, mas Ellis foi encontrada morta na noite de terça-feira. Nós estamos tentando descobrir quem fez isso e, como estou certa de que você entende, nós temos que investigar qualquer pessoa que tenha passado tempo com ela recentemente. Especialmente voluntários que não estão sempre no lar."
"Meu Deus," disse Robbie, seu rosto se tornando mais pálido com o tempo.
"Antes da Sra. Ridgeway, houve outro assassinato em um lar em Treston, Virgínia. Você já esteve lá?"
Robbie assentiu. "Sim, mas apenas duas vezes. Uma vez foi para um tipo de serviço comunitário que nós fazemos pela Liberty, minha alma mater. Eu ajudei a remodelar a cozinha e fiz um pouco paisagismo. Eu voltei um mês ou dois depois para ajudar onde pudesse. Foi mais para construir relações.”
"Há quanto tempo foi isso?"
Ele pensou sobre isso, ainda abalado pela notícia dois dos assassinatos. "Quatro anos, eu diria. Talvez mais perto de quatro e meio."
“Você se lembra de encontrar um homem chamado Kenneth Abel quando esteve lá? Ele também foi morto recentemente."
Novamente, ele parecia perdido em pensamento. Seus olhos pareciam quase congelados. "O nome não me parece familiar. Mas não significa que eu nunca tenha falado com ele enquanto eu estava por lá."
Mackenzie assentiu, ficando cada vez mais certa de que Robbie Huston estava longe de ser um assassino. Ela não poderia ter certeza, mas ela pensou ter visto os olhos dele reluzindo com lágrimas enquanto ela tomava um gole do café que ele havia lhe dado.
Não se pode ser cuidadosa demais, entretanto ela pensou.
“Sr. Huston, nós sabendo com certeza que a Sra. Ridgeway foi morta a oitocentos metros de distância do terreno do Wakeman, em algum momento entre sete e cinco e nove e quarenta e cinco da noite de terça-feira. Você tem algum tipo de álibi para esse período de tempo?"
Ela viu aquele olhar de busca pela terceira vez, mas então ele começou a acenar com a cabeça vagarosamente. "Eu estava aqui, no apartamento. Em uma chamada de conferência com três outros rapazes. Nós estamos iniciando essa pequena organizaçãozinha para ajudar os sem teto do centro da cidade e em outras cidades ao redor."
"Alguma prova?"
"Eu poderia mostrar a você onde eu fiz o login. Eu acho que um dos outros caras mantém anotações muito boas sobre as chamadas também. Terá todo tipo de tópicos de mensagens com horário, edições de anotações e coisas como essas." Ele já estava buscando seu notebook, sentando-se em uma mesa em frente a uma das largas janelas. “Aqui, eu posso mostrá-la se você quiser."
Agora ela estava certa de que Robbie Huston era inocente, mas ela queria levar a cabo. Dada a forma que as notícias o afetaram, ela também queria que Robbie sentisse que contribuiu com alguma coisa para o caso. Então ela assistiu por cima do ombro dele enquanto ele entrava no site da plataforma de conferência, fazia o login e abria o histórico dele, não apenas dos últimos dias, mas também das últimas várias semanas. Ela viu que ele esteve falando a verdade: ele participou de uma chamada de conferência e sessão de planejamento das 6:45 às 10:04 na noite de terça-feira.
O processo todo levou menos de cinco minutos para ele repassar, mostrar a ela as notas e edições e, também, quando fizera o login e saíra da chamada.
"Muito obrigado pela sua ajuda, Sr. Huston," ela disse.
Ele assentiu enquanto a acompanhava até a porta. "Duas pessoas cegas…" ele disse, tentando fazer sentido disso. "Por que alguém faria isso?"
"Eu mesma estou tentando descobrir isso," ela disse. "Por favor, me ligue se pensar em alguma coisa que possa ajudar," ela acrescentou, oferecendo um cartão a ele.
Ele o pegou, acenou um lento adeus e então fechou a porta quando ela saiu. Mackenzie quase sentia que ela acabara de dar a noticia dos assassinatos a membros da família, ao invés de um jovem rapaz de bom coração que parecia se importar genuinamente com ambos os falecidos.
Ela quase invejou isso… sentir remorso genuíno por estranhos. Ultimamente, ela estava vendo os mortos como nada mais que cadáveres─montes sem nome, repletos com vestígios em potencial.
Não era a melhor forma de viver a vida, ela sabia. Ela não podia deixar o trabalho liquidar seu senso de compaixão. Ou sua humanidade.
CAPÍTULO SETE
Mackenzie estacionou às 11:46 na frente do Lar para Cegos Treston, fazendo em melhor tempo do que o GPS havia estimado. Contudo, quando Mackenzie estacionou em frente do prédio, ela conferiu novamente o endereço que Clarke havia lhe dado. O lar parecia pequeno, não maior que a frente de uma loja comum. Era localizado distante no lado oeste da cidade de Treston, a qual, embora muito maior que Stateton, ainda não era muito do que se gabar. Enquanto a cidade estava muitos passos a frente da morbidez rural de Stateton, se vangloriava apenas com dois semáforos. A única coisa que a tornava pelo menos um pouco urbana era o McDonald's à margem da Main Street.
Confiante de que estava com o endereço certo—o que foi reforçado pela placa em ruínas que ficava na frente da propriedade—Mackenzie saiu do seu carro e caminhou pela calçada rachada. A porta da frente era separada da calçada por apenas três degraus de concreto que pareciam não ser varridos em anos.
Ela entrou, pisando no que servia como saguão e área de espera. Uma mulher estava sentada atrás de um balcão ao longo da parede frontal, falando ao telefone. A parede atrás dela era pintada por um surpreendente tom de branco. Um quadro branco à esquerda dela continha um punhado de anotações. Fora isso, a parede era nua e inexpressiva.
Mackenzie teve que caminhar até o balcão e ficar ali, pressionada contra ele e fazendo seu melhor para sugerir que ela precisava de assistência. A mulher atrás do balcão parecia terrivelmente irritada com isso e terminou a chamada relutantemente. Ela finalmente olhou acima para Mackenzie e perguntou: "Posso ajudá-la?"
"Estou aqui para falar com o gerente," ela disse.
"E você é?"
“Agente Mackenzie White, do FBI.”
A mulher parou por um momento, como se não acreditasse em Mackenzie. Dessa vez foi a vez de Mackenzie de dar um olhar irritado. Ela mostrou seu distintivo e assistiu enquanto a mulher entrou em ação repentinamente. Ela pegou o telefone, pressionou uma extensão e falou brevemente com alguém. Ela evitou contato visual com Mackenzie o tempo inteiro.
Quando a mulher terminou, ela finalmente olhou acima de volta para Mackenzie. Estava claro que ela estava envergonhada, mas Mackenzie fez o seu melhor para não gozar muito disso.
"A Sra. Talbot a verá em um instante," a moça disse. “Se dirija para trás. O escritório dela é o primeiro que aparecerá."
Mackenzie andou pela única outra porta no lobby e entrou em um corredor. O corredor era bem curto, contendo apenas três portas. No final dele, um conjunto de portas duplas estava fechado. Ela assumiu que as acomodações ficavam atrás dessas portas e esperou que os quartos estivessem em melhor condição que o restante da construção.
Ela se aproximou do primeiro cômodo ao longo do corredor. A placa com nome ficava juntamente ao lado do portal e se lia Gloria Talbot. A porta estava parcialmente aberta, mas mesmo assim Mackenzie bateu. A porta foi atendida imediatamente por uma mulher com sobrepeso que vestia um grosso par de óculos bifocais.
“Agente White, por favor, entre,” disse Talbot.
Mackenzie fez como lhe foi solicitado, tomando o único assento que ficava do lado oposto da pequena e bagunçada mesa.
"Eu vou assumir que isso se trata do assassinato de Kenneth Able?" perguntou Talbot.
"Sim senhora," disse Mackenzie. "Nós temos outro assassinato em uma cidade a cerca de duas horas e meia ao sul daqui. Outra pessoa cega—um membro de um lar para cegos."
“Duas horas e meia de distância?" perguntou Talbot. “Deve ser o Lar para Cegos Wakeman, certo?”
“É. E a maneiro pela qual a vítima foi morta parece ser idêntica a Kenneth Able. Eu estava esperando que você pudesse me mostrar o lar, incluindo o closet onde o corpo dele foi encontrado."
"Absolutamente," disse Talbot. "Venha comigo."
Talbot a levou de volta para fora no corredor e então através das portas duplas que Mackenzie havia visto no seu caminho até o escritório de Talbot. Elas adentraram um amplo espaço aberto que se esgotava no que parecia ser um tipo de sala comum. Dentro desse espaço aberto, Mackenzie contou oito quartos.
"Estes," disse Talbot, "são os quartos nos quais os residentes ficam. Diferentemente do Wakeman, nós não temos acomodações modernas estilosas."
Ela não dizia isso se desculpando. De fato, Mackenzie pensou ter ouvido certo veneno na voz de Talbot.
"Este aqui," disse Talbot, levando Mackenzie até a segunda porta na direita, "era o quarto de Kenneth."
Talbot destrancou a porta e elas entraram. O quarto cheirava a poeira e algum tipo de limpador químico que parecia forte demais. Mackenzie fez seu melhor para não parecer surpresa pelo estado do quarto em comparação com o que ela havia visto no Wakeman. Ela observou a cama, a pequena escrivaninha, a cômoda e a porta do closet. Tudo parecia envelhecido, embotado e de outra época.
Ela caminhou até o closet e o abriu. Ao olhar para o espaço vazio dentro, Mackenzie perguntou: "Você pode me contar como o corpo foi descoberto?"
"Havia outra residente aqui, Margaret Dunwoody," disse Talbot. "Ela e Kenneth brincavam que estavam namorando─o que é hilário, porque Kenneth tinha trinta e oito e Margaret tem, forçando, sessenta. Eles sempre estavam juntos, conversando na área comum, comendo as refeições juntos e coisas do tipo. De qualquer forma, ela veio até esse quarto a tarde para ver se ele queria sair para comer um lanche no McDonald's. Quando ele não respondeu a porta, ela entrou. Ela disse que sabia que havia algo errado logo de cara. Ela disse que o quarto parecia muito quieto. Ela estava apavorada, então foi até o guarda que estava aqui aquela noite─um jovem rapaz chamado Tyrell Price. Tyrell encontrou Kenneth no closet, morto."
"Enforcado, com contusões ao redor do olhos, correto?" perguntou Mackenzie.
"Isso mesmo," disse Talbot.
Mackenzie olhou dentro do closet, pegando a pequena Maglite do seu cinto e iluminando o interior. Ela tateou ao redor do carpete e do portal, mas não encontrou qualquer sinal de que o assassino tenha deixado vestígios não intencionais. A única coisa que foi encontrada no closet foi um cabide de casaco perdido, pendendo da barra de tensão próxima ao topo da estrutura.
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