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Dylan bufou e balançou a cabeça.
- Ridículo.
- Tudo bem – disse O’Malley. – Avery, você está liberada para falar com os suspeitos amanhã. Dylan, entre em contato com Harvard e os deixe a par da situação. Eu vou ligar para o comandante hoje à noite e avisá-lo do que nós já temos. Eu acho que também devemos te dar um mandado de acesso às câmeras. Vamos manter Thompson e Jones nas tarefas deles. Dan, eu sei que você trabalhou o dia todo. Só mais uma coisa e você pode ir embora. Consiga o endereço dos dois garotos de Harvard se você ainda não tem. Passe por lá no caminho pra casa. Certifique-se de que eles não vão fugir. Não quero ninguém escapando.
- Eu posso fazer isso – disse Ramirez.
- Ok - aprovou O’Malley. – Vá. Excelente trabalho de vocês dois. Vocês devem ter orgulho disso. Avery e Dylan, fiquem aqui mais um pouco.
Ramirez olhou para Avery.
- Você quer que eu te busque amanhã de manhã? Às 8? Vamos sair juntos?
- Claro.
- Eu vou me manter em contato com Sarah sobre o retrato. Talvez ela tenha algo.
Ver um parceiro querendo ajudar, por livre e espontânea vontade, era algo novo para Avery. Todos os seus outros parceiros desde que ela havia entrado na polícia tinham tido vontade deixá-la morta em uma vala, se possível.
- Parece ótimo – ela disse.
Assim que Ramirez saiu, O’Malley fez Dylan sentar-se em um lado da mesa de conferências, e Avery no outro.
- Escutem, vocês dois - disse com voz firme. – O comandante me ligou hoje, querendo saber o que eu estava pensando, colocando uma ex-advogada de defesa criminal conhecida e acabada neste caso. Avery, eu disse a ele que você era a oficial certa para este trabalho e mantive minha decisão. Seu trabalho hoje prova que eu estava certo. Mas são quase sete e meia e eu ainda estou aqui. Eu tenho uma esposa e três filhos esperando por mim em casa e eu quero muito ir para casa vê-los e esquecer desse lugar horrível por um tempo. Claro, nenhum de vocês têm essa preocupação, então talvez vocês não entendam o que eu estou dizendo.
Ela o olhava de volta, pensando.
Vamos logo. Pare de me encher com suas besteiras.
Um silêncio tenso tomou conta da sala.
- Dylan, comece a agir como um supervisor. Não me ligue a cada detalhezinho. Aprenda a cuidar do seu pessoal sozinho. E você - ele disse a Avery – é melhor parar com esse jeito idiota e com as atitudes de quem não está nem aí e começar a agir como se você se importasse, porque eu sei que você se importa. – Ele olhou para ela por um bom tempo. – Eu e Dylan ficamos te esperando por horas. Você quer desligar o rádio? Não atender o telefone? Isso te ajuda a pensar? Bom pra você. Faça isso. Mas quando seu superior liga, você tem que retornar. A próxima vez que isso acontecer, você está fora do caso. Entendido?
Avery assentiu, humildemente.
- Entendido.
- Entendido. – Dylan repetiu.
- Que bom – O’Malley respondeu.
Ele levantou-se e sorriu.
- Agora… Eu tinha que ter feito isso antes, mas não há hora melhor para apresentações. Avery Black, eu gostaria de te apresentar Dylan Connelly, pai divorciado de duas crianças. A esposa o deixou dois anos atrás porque ele nunca voltava para casa e bebia muito. Agora eles moram em Maine e ele nunca vê os filhos, então ele está sempre estressado.
Dylan endureceu-se e se preparou para falar, mas não disse nada.
- E Dylan… Apresento Avery Black, ex-advogada de defesa criminal que se fodeu ao libertar um dos piores assassinos do mundo nas ruas de Boston, um homem que voltou a matar e destruiu a vida dela. Ela perdeu um marido multimilionário e tem uma filha que quase não fala com ela. E, assim como você, ela geralmente desconta as mágoas no trabalho e no álcool. Você vê? Vocês têm mais em comum do que você pensava.
Ele voltou a ficar sério.
- Não me envergonhem de novo, ou os dois estão fora do caso.
CAPÍTULO OITO
Deixados sozinhos na sala de conferências, Avery e Dylan ficaram se olhando por alguns momentos em silêncio. Nenhum dos dois se movia. Ele estava de cabeça baixa, fazendo careta e parecendo estar refletindo sobre algo. Pela primeira vez, Avery sentiu simpatia por ele.
- Eu sei como é - ela começou a falar.
Dylan levantou-se rapidamente e colocou a cadeira com força de volta no lugar.
- Não pense que isso muda alguma coisa - ele disse. – Você e eu não temos nada em comum.
Ainda que suas expressões fossem de raiva e distantes, seus olhos diziam algo diferente. Avery tinha certeza de que ele estava à beira de um colapso. Algo que o capitão havia dito o afetou, assim como havia afetado ela. Os dois estavam fragilizados e sozinhos.
- Olha só - ela disse – Eu estava pensando…
Dylan se virou a abriu a porta. Seu movimento até a saída a fez confirmar o que ela imaginava: seus olhos vermelhos estavam cheios de lágrimas.
- Cacete! – Ela sussurrou.
As noites eram a pior parte do dia para Avery. Ela não tinha mais um grupo estável de amigos, nem hobbies, nem outro trabalho, e andava tão cansada que não conseguia nem pensar em fazer exercícios. Sozinha na mesa enorme, ela baixou a cabeça, temendo o que viria a seguir.
A saída do escritório foi como todos os dias, porém carregada com um sentimento estranho, e muitos oficiais ainda mais irritados com a capa do jornal estampando Avery.
- Ei, Black! – Alguém a chamou e apontou para o jornal. – Boa foto!
Outro policial tocou a imagem de Howard Randall.
- Essa matéria diz que vocês eram bem próximos, Black. Você entende de gerontofilia? Você sabe o que é isso? Significa que você gosta de foder com idosos!
- Vocês são hilários! – Ela sorriu e apontou os dedos em forma de arma.
- Vá se foder, Black.
* * *
Uma BMW branca estava estacionada na garagem. Cinco anos de uso, suja. Avery havia a comprado no auge de sua carreira como advogada de defesa.
Onde você estava com a cabeça? Pensou. Por que alguém compra um carro branco?
Sucesso, ela lembrou. A BMW branca, outrora, fora brilhante e chamativa, e ela queria que todo mundo soubesse que ela era a chefe. Agora, o carro era um lembrete de sua vida mal sucedida.
O apartamento de Avery era na Bolton Street, no sul de Boston. Ela era dona de um dois quartos no segundo andar de um prédio de dois andares. O lugar era decadente em relação à sua antiga casa, mas era espaçoso e agradável, com um bom terraço onde ela podia sentar e relaxar após um dia árduo de trabalho.
A sala de estar era um espaço aberto com um tapete marrom e felpudo. A cozinha ficava à direita da porta de entrada, separada do resto da sala por dois grandes móveis. Não havia plantas ou animais. Virado para o norte, o apartamento geralmente era escuro. Avery jogou suas chaves na mesa e se desfez do resto de seus pertences: arma, colete, walkie-talkie, distintivo, cinto, telefone e carteira. Ela se despiu no caminho para o banho.
Após pensar muito para processar o que havia acontecido no dia, ela vestiu um roupão, pegou uma cerveja da geladeira, seu telefone e foi até o terraço.
Quase vinte chamadas não atendidas estavam na tela do celular, além de dez novas mensagens. A maioria era de Connelly e O’Malley, muitas vezes gritando.
Às vezes, Avery ficava tão concentrada e focada em algo que se recusava a prestar atenção em qualquer coisa que não fosse essencial para sua tarefa, especialmente quando ainda havia um quebra-cabeça para ser montado. Hoje havia sido um desses dias.
Ela arrastou a tela para os últimos números discados e para todos os números que haviam ligado para ela no último mês. Nenhuma chamada era de sua filha ou de seu ex-marido.
De repente, ela sentiu falta dos dois.
Números foram discados.
O telefone tocou.
Uma mensagem respondeu: “Oi, aqui é Rose. Eu não posso atender agora, mas se você deixar uma breve mensagem com seu nome e número, eu retorno assim que puder. Muito obrigada.” Bip.
Avery desligou.
Ela considerou a ideia de ligar para Jack, seu ex. Ele era um bom homem, seu amor da faculdade, e tinha um coração de ouro. Um cara decente. Eles viveram um amor tórrido desde que tinham 18 anos, mas seu ego causado pelo trabalho dos sonhos havia estragado tudo.
Por anos, ela culpou outras pessoas pela separação e pela briga com sua filha. Howard Randall por suas mentiras, seu antigo chefe, o dinheiro, o poder, e todas aquelas pessoas que constantemente ela precisava entreter e barganhar para estar um passo à frente da verdade. Pouco a pouco, seus clientes se tornaram menos confiáveis, e mesmo assim ela quis seguir, ignorando a verdade, enganando a justiça de um jeito ou de outro, simplesmente para ganhar. Só mais um caso, ela dissera várias vezes. Da próxima vez, vou defender alguém realmente inocente e colocar as coisas em ordem.
Howard Randall havia sido aquele caso.
Eu sou inocente, ele dissera chorando na primeira reunião. Esses alunos são minha vida. Por que eu machucaria algum deles?
Avery havia acreditado nele, e pela primeira vez em muito tempo, ela havia começado a acreditar em si mesma. Randall era um professor de psicologia de Harvard mundialmente renomado, com seus 60 e poucos anos, sem razão ou passado conhecido de suas perturbadoras crenças pessoais. Mais do que isso, ele parecia fraco e acabado, e Avery sempre quis defender os fracos.
Quando ela o libertou, havia sido o auge de sua carreira, o ponto mais alto, até ele voltar a matar e transformá-la em uma fraude.
Tudo que Avery queria saber era: por que?
Por que você fez isso? Ela perguntara certa vez para ele no telefone. Por que você mentiu e armou para mim, simplesmente para ir para a cadeira pelo resto da vida?
Porque eu sabia que você se salvaria, Howard respondera.
Salvaria, Avery pensou.
Isso é se salvar? Ela pensou e olhou em vota. Aqui? Agora? Sem amigos? Sem família? Uma cerveja na mão e uma vida nova caçando assassinos que me fazem relembrar meu passado? Ela deu um gole na cerveja e balançou a cabeça. Não, isso não é se salvar. Pelo menos não ainda.
Seus pensamentos se voltaram para o assassino.
Uma imagem dele apareceu em sua mente: quieto, sozinho, desesperado por atenção, especialista em ervas e cadáveres. Ela descartou um alcoólatra ou viciado. Ele era muito cuidadoso. A minivan indicava uma família, mas suas ações pareciam indicar que uma família era o que ele queria, não o que ele tinha.
Com a mente inundada em pensamentos e imagens, Avery tomou mais duas cervejas até que finalmente pegou no sono em sua confortável cadeira.
CAPÍTULO NOVE
Em seus sonhos, Avery estava com sua família outra vez.
Seu ex era um homem atlético com o cabelo bem cortado e olhos verdes deslumbrantes. Alpinistas ávidos, eles estavam em um passeio com sua filha, Rose. Ela só tinha 16 anos e já havia sido admitida antecipadamente na Brandeis College, mesmo ainda estando no segundo grau. No sonho, no entanto, ela ainda era uma criança de seis anos. Eles estavam cantando e caminhando juntos por um caminho cheio de grandes árvores. Pássaros pretos bateram as asas e cantaram antes das árvores se transformarem em um monstro assombroso e algo como uma faca atingisse Rose no peito.
- Não! - Avery gritou.
Outra mão esfaqueou Jack e ele e sua filha foram levados.
- Não! Não! Não! – Avery chorava.
O monstro se abaixou.
Os lábios negros sussurraram em seu ouvido.
Não existe justiça.
Avery acordou assustada com o som de um toque incessante. Ela ainda estava no terraço, de roupão. O sol já havia nascido. O telefone continuava tocando.
Ela atendeu.
- Black.
- Ei, Black! – Ramirez respondeu. – Você não atende nunca? Estou aqui embaixo. Pegue suas coisas e vamos. Tenho café e alguns esboços de retratos.
- Que horas são?
- Oito e meia.
- Preciso de cinco minutos – ela respondeu e desligou.
O sonho continuou nos pensamentos dela. Vagarosamente, Avery levantou-se e entrou no apartamento. Sua cabeça latejava. Ela vestiu calças jeans e uma camiseta branca, que ficou mais apresentável junto com o blazer preto. Três goles de suco de laranja e uma barra de granola batida serviram de café da manhã. Na saída de casa, Avery se olhou no espelho. Suas roupas e aquele café da manhã estavam a anos luz dos ternos de milhares de dólares e dos cafés diários nos restaurantes mais chiques. Esqueça isso, ela pensou. Você não está aqui para se vestir bem. Você está aqui para ir atrás de bandidos.
Ramirez a entregou uma xícara de café no carro.
- Você está com boa aparência, Black - ele brincou.
Como sempre, ele parecia o modelo da perfeição: jeans azul-escuros, uma camisa de botão azul-claro e uma jaqueta azul-escuro com cintos e sapatos marrons.
- Você deveria ser modelo - Avery respondeu – não policial.
Um sorriso mostrou seus dentes perfeitos.
- Na verdade, eu trabalhei um pouco como modelo um tempo atrás.
Ele saiu da rua em sentido norte.
- Você conseguiu dormir essa noite? – Ramirez perguntou.
- Não muito. E você?
- Dormi como um neném - ele respondeu orgulhoso. – Eu sempre durmo bem. Nada disso me atinge, sabe? Eu gosto de deixar acontecer – disse, balançando as mãos pelo ar.
- Alguma novidade?
- Os dois garotos estavam em casa ontem à noite. Connelly ficou de olho neles para ter certeza que não iriam fugir. Ele também falou com o reitor para dar algumas informações e garantir que ninguém se desespere com um monte de policiais fardados pelo campus. Nenhum dos dois têm antecedentes. O reitor disse que os dois são bons garotos de boas famílias. Vamos ver hoje. Nada ainda da Sarah sobre o reconhecimento facial. Devemos ter algo à tarde. Algumas concessionárias me ligaram de volta com nomes e números. Eu vou segurar a lista por enquanto e ver o que acontece. Você viu o jornal da manhã?
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