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"Uma aula de nerd?" Chris disse. Então, ele deu sua risada estridente, rindo de sua própria piada.
A mãe estendeu a mão para pegar o suéter de Oliver. "Me dê isso aqui. Vou precisar lavá-lo. Ela suspirou alto. "Agora entre. Seu jantar está esfriando".
Ela conduziu Oliver até a sala de estar. Imediatamente, ele notou que alguém havia mexido nas coisas em seu canto-quarto. No começo, pensou que era porque um colchão tinha sido colocado no lugar, e tudo foi jogado em cima, mas então viu o estilingue deitado em seu cobertor. Ao lado dele estava sua mala, com as fechaduras quebradas e a tampa entreaberta. Então, ele viu com horror que todas as bobinas de seu casaco de invisibilidade estavam espalhadas pelo chão, amassadas, como se tivessem sido pisoteadas.
Oliver sabia instantaneamente que Chris havia feito aquilo. Olhou para ele. Seu irmão estava esperando ansiosamente para ver a sua reação.
"Você fez isso?" Oliver perguntou.
Chris enfiou as mãos nos bolsos e balançou-se nos calcanhares, fingindo inocência. Então, deu de ombros. "Eu não tenho ideia do que você está falando", disse ele com um sorriso revelador.
Aquilo era o golpe final. Depois de tudo o que aconteceu nos últimos dois dias, a mudança, a terrível experiência na escola e a perda de seu herói, Oliver simplesmente não tinha como lidar com aquilo. A fúria explodiu dentro dele. Antes que tivesse a chance de pensar, foi em direção a Chris.
Ele bateu em seu irmão, com força. Chris mal cambaleou para trás; ele era muito grande e estava claramente esperando que Oliver fosse atacá-lo. E ele estava nitidamente apreciando as tentativas de Oliver para lutar com ele, porque começou a rir alto. Era muito maior, o suficiente para colocar a mão na cabeça de Oliver e empurrá-lo para trás. Oliver agitou-se, impotente, e nenhum de seus golpes chegou nem perto de atingir Chris.
Da mesa da cozinha, seu pai gritou: "MENINOS! Parem de brigar!"
"É o Oliver", Chris gritou de volta. "Ele me atacou sem motivo".
"Você sabe exatamente qual é o motivo!" Oliver gritou, seus punhos voando pelo ar, incapazes de alcançar o corpo de Chris.
"Porque pisei em suas pequenas bobinas estranhas?" Chris assobiou, baixo o suficiente para que nenhum de seus pais pudesse ouvi-lo. "Ou porque quebrei aquele estilingue estúpido? Você é uma aberração, Oliver!"
Oliver se exauriu, lutando contra Chris. Então, recuou, ofegante.
"Eu odeio esta família!" Oliver gritou.
Então, correu para seu canto, pegando todas as bobinas danificadas e pedaços quebrados de arame, as alavancas e o metal dobrado, jogando-os em sua mala.
Seus pais vieram correndo.
"Como você se atreve!" seu pai gritou.
"Retire o que disse!" sua mãe gritou.
"Agora você se deu mal", disse Chris, sorrindo maliciosamente.
Enquanto todos gritavam com ele, Oliver sabia que havia apenas um lugar para onde poderia escapar. Seu mundo dos sonhos, o lugar em sua imaginação.
Apertou os olhos e tentou abafar as vozes que ouvia.
Então, de repente, foi transportado para a fábrica. Não aquela que visitara antes, mas uma versão nova em folha, onde todas as máquinas brilhavam e cintilavam sob luzes fortes.
Oliver ficou ali olhando para a fábrica em toda a sua antiga glória. Mas, assim como na vida real, Armando não estava lá para cumprimentá-lo. Nenhum aliado. Nenhum amigo. Mesmo em sua imaginação, ele estava completamente sozinho.
*
Apenas quando todos foram dormir e a casa ficou em completa escuridão, Oliver se sentiu com forças para consertar suas invenções. Queria ser otimista enquanto remexia em todas as peças, tentando fazer com que se encaixassem novamente. Mas era inútil. Tudo estava destruído. Todas as suas bobinas e fios foram danificados, não havia esperança. Ele teria que começar tudo de novo.
Jogou as peças em sua mala e fechou-a. Com as duas trancas agora quebradas, a tampa saltou antes de cair de novo e ficar entreaberta. Oliver suspirou pesadamente e caiu de volta no colchão. Puxou o cobertor por cima da cabeça.
Deve ter sido apenas por pura exaustão que Oliver foi capaz de adormecer naquela noite. Mas ele dormiu. E enquanto mergulhava em seus sonhos, se viu parado na janela, olhando para a árvore fina do outro lado da rua. Ali estava o homem e a mulher que ele tinha visto na noite passada, de mãos dadas.
Oliver bateu na janela.
"Quem são vocês?", ele gritou.
A mulher sorriu. Seu sorriso era gentil; ainda mais do que o da Srta. Belfry.
Mas nenhum dos dois falou. Apenas o encararam, sorrindo.
Oliver abriu a janela. "Quem são vocês?" ele gritou novamente, mas desta vez sua voz foi abafada pelo vento.
O homem e a mulher ficaram ali parados, mudos, de mãos entrelaçadas, sorrindo de maneira acolhedora, convidativos.
Oliver começou a sair pela janela. Mas, ao fazer isso, a imagem dos dois piscou e tremeu, como se fossem hologramas. Estavam começando a desaparecer.
"Esperem!" ele gritou. "Não vão embora!"
Ele saiu pela janela e correu pela rua. Eles desapareciam mais e mais a cada passo que ele dava.
Quando parou na frente dos dois, eram pouco visíveis. Ele estendeu a mão para a mulher, mas a mão dele passou direto através dela, como se ela fosse um fantasma.
"Por favor, me diga quem você é!" ele implorou.
O homem abriu a boca para falar, mas sua voz foi abafada pelo vento que rugia. Oliver ficou desesperado.
"Quem é você?" ele perguntou novamente, gritando para ser ouvido, apesar do vento. "Por que vocês estão me observando?"
O homem e a mulher estavam desaparecendo rapidamente. O homem falou novamente, e desta vez Oliver ouviu um pequeno sussurro.
"Você tem uma missão..."
"O quê?" Oliver gaguejou. "O que você quer dizer? Eu não entendo".
Mas antes que qualquer um deles tivesse a chance de falar, desapareceram completamente. Foram embora.
"Voltem!" Oliver gritou para o vazio.
Então, como se estivesse falando em seu ouvido, ele ouviu a voz fraca da mulher dizer: "Você salvará a humanidade".
Os olhos de Oliver se arregalaram. Viu-se novamente em seu recuo da sala, banhado pela luz pálida e azulada que entrava pela janela. Era de manhã. Podia sentir seu coração acelerado.
O sonho o abalara até o âmago do seu ser. O que eles queriam dizer sobre ele ter uma missão? Sobre salvar a humanidade? E quem eram aquele homem e aquela mulher, afinal? Fragmentos de sua imaginação ou algo mais? Era muita coisa para compreender.
Quando o choque inicial do sonho começou a desaparecer, Oliver sentiu uma nova sensação. Esperança. Em algum lugar dentro dele, sentiu que aquele seria um dia muito importante, que tudo estava prestes a mudar.
CAPÍTULO QUATRO
O bom humor de Oliver aumentou ainda mais quando ele percebeu que sua primeira aula do dia era ciências, e isso significava ver a Srta. Belfry novamente. Mesmo enquanto atravessava a quadra, abaixando-se para desviar das bolas de basquete que, suspeitava, estavam vindo na direção de sua cabeça de propósito, o entusiasmo de Oliver só aumentava.
Ele chegou nas escadas e sucumbiu à força dos outros alunos, que o empurraram como um surfista sobre uma onda até o quarto andar. Então, abriu caminho pelo corredor e se dirigiu para a sala de aula.
Foi o primeiro a chegar. A Srta. Belfry já estava lá dentro, com um vestido de linho cinza, arrumando uma fileira de modelos pequenos sobre sua mesa. Oliver viu que havia um pequeno bimotor, um balão de ar quente, um foguete espacial e um avião moderno.
"A lição de hoje é sobre voo?" ele perguntou.
A Srta. Belfry se assustou. Obviamente, não percebeu que um de seus alunos havia entrado na sala.
"Ah, Oliver", disse ela, radiante. "Bom Dia. Sim. Suspeito que você já saiba algo sobre esses tipos de invenções".
Oliver assentiu. Seu livro de inventores tinha uma seção inteira sobre voo, desde os primeiros balões inventados pelos irmãos franceses Montgolfier, até o projeto inicial de avião dos irmãos Wright, e todo o trajeto percorrido pela ciência até chegar nos foguetes. Como o resto das páginas do livro, ele leu essa seção tantas vezes que ficou com a maior parte gravada na memória.
A Srta. Belfry sorriu como se já tivesse adivinhado que Oliver seria uma fonte de conhecimento sobre esse assunto em particular.
"Você pode ter que me ajudar a explicar um pouco de física para os outros", ela disse.
Oliver corou enquanto se sentava. Odiava falar em voz alta na frente de seus colegas, especialmente já que suspeitavam que ele era um nerd, e confirmar isso parecia que estava se exibindo mais do que realmente queria. Mas a Srta. Belfry tinha um jeito muito calmo de ser, como se achasse que o conhecimento de Oliver era algo a ser celebrado em vez de ridicularizado.
Escolheu um lugar perto do quadro. Se fosse forçado a falar em voz alta, preferiria não ter trinta pares de olhos fixos nele por cima dos ombros. Pelo menos, desse jeito ele só veria os outros quatro alunos na fila da frente olhando para ele.
Nesse momento, os colegas de Oliver começaram a entrar e tomar seus lugares. O barulho começou a crescer. Oliver nunca entendeu como as outras pessoas tinham tanto para conversar. Embora ele pudesse falar sobre inventores e invenções por horas, não havia muito mais sobre o que sentisse necessidade de falar. Sempre ficava confuso com o fato de outras pessoas conseguirem puxar papo tão facilmente, e como elas compartilhavam tantas palavras sobre o que, em sua mente, parecia quase nada em termos de importância.
A Srta. Belfry começou a aula, agitando os braços na tentativa de fazer todo mundo calar a boca. Oliver se sentiu muito mal por ela. Parecia sempre uma batalha simplesmente fazer os alunos ouvirem. E ela era tão gentil e falava tão baixo que nunca aumentava a voz ou gritava, por isso, suas tentativas de acalmar todo mundo levavam séculos para fazer efeito. Mas, eventualmente, o barulho diminuiu.
"Hoje, crianças", começou a Srta. Belfry, "tenho um problema que precisa ser resolvido". Ela mostrou um palito de picolé. "Eu me pergunto se alguém pode me dizer como fazer isto voar".
Uma onda de burburinho percorreu a sala. Alguém gritou.
"Basta jogá-lo pra cima!"
A Srta. Belfry fez o que foi sugerido. O palito de picolé viajou menos de meio metro antes de cair no chão.
"Humm, eu não sei vocês", disse a professora, "mas, para mim, o palito só estava caindo. Eu quero vê-lo voar. Que voe pelo ar, não apenas despenque no chão".
Paul, o provocador de Oliver na última aula, fez a próxima sugestão. "Por que você não o prega em um elástico? Como um estilingue".
"É uma boa ideia", disse a Srta. Belfry, assentindo. "Mas eu não te disse uma coisa. Este palito tem, na verdade, três metros de comprimento".
"Então faça uma catapulta de três metros de largura!", alguém gritou.
"Ou coloque lançadores de foguetes nele!" outra voz entrou na conversa.
A turma começou a rir. Oliver se sentiu incomodado. Ele sabia exatamente como o palito de picolé poderia voar. Tudo se resumia a Física.
A Srta. Belfry conseguiu fazer a turma se acalmar novamente.
"Esse era exatamente o problema enfrentado pelos irmãos Wright quando eles tentaram criar o primeiro avião. Como imitar o voo dos pássaros. Como transformar isto - ela ergueu o bastão horizontalmente - em asas que poderiam sustentar o voo. Então, alguém sabe como eles conseguiram?"
Seu olhar voltou-se imediatamente para Oliver. Ele engoliu em seco. Por mais que não quisesse falar em voz alta, outra parte sua queria desesperadamente provar à Srta. Belfry como ele era esperto.
"Você precisa criar uma força de sustentação, ou lift", disse ele, em voz baixa.
"O que você falou?", disse a Srta. Belfry, embora Oliver soubesse muito bem que o ouvira perfeitamente.
Reticente, ele falou um pouco mais alto. "Você precisa criar sustentação".
Assim que terminou de falar, Oliver sentiu um rubor nas bochechas. Percebeu algo mudar na atmosfera da sala, a tensão dos outros estudantes ao seu redor. Mesmo que não estivesse vendo trinta pares de olhos na sua direção, Oliver podia praticamente senti-los queimando em suas costas.
"E o que é sustentação?", continuou a professora.
Oliver molhou os lábios secos e engoliu sua angústia. "Sustentação, ou lift, é o nome da força que exerce efeito contrário à gravidade. A gravidade está sempre puxando objetos para o centro da terra. O lift é a força que a neutraliza".
De algum lugar atrás de si, ele ouviu um sussurro de Paul em um tom zombeteiro, imitando-o: "O lift a neutraliza".
Uma gargalhada ondulou entre os estudantes atrás dele. Oliver sentiu seus músculos endurecerem defensivamente, em resposta.
A Srta. Belfry estava nitidamente alheia àquela silenciosa zombaria.
"Humm", ela disse, como se fosse novidade para ela. "Parece complicado. Em efeito contrário à gravidade? Isso não é impossível?"
Oliver sentiu-se desconfortável. Ele realmente queria parar de falar, ter um pequeno alívio em relação aos sussurros. Mas obviamente ninguém mais sabia a resposta, e a Srta. Belfry observava-o com seus brilhantes e encorajadores olhos.
"De jeito nenhum", Oliver respondeu, finalmente mordendo a isca. "Para criar essa força, tudo o que você precisa fazer é mudar a velocidade com que o ar flui em torno de algo. Podemos fazer isso apenas alterando a forma do objeto. Assim, com o seu palito de picolé, você só precisa de uma espécie de crista no lado superior. Isso significa que, à medida que o palito se move para frente, o ar que flui por cima e por baixo toma caminhos de formas diferentes. Sobre o lado elevado da asa, o caminho é curvo, enquanto que, embaixo da asa, o caminho é plano e ininterrupto".
Oliver terminou de falar e imediatamente apertou os lábios. Ele não só tinha respondido a pergunta dela, mas tinha ido além, explicando. Ele se deixou levar e agora seria ridicularizado impiedosamente. Então, se preparou.
"Você poderia desenhar para nós?" perguntou a professora.
Ela estendeu uma caneta para Oliver. Ele olhou para ela, com os olhos arregalados. Falar era uma coisa, mas ficar na frente de todos como um alvo era outra completamente diferente!
"Melhor não", ele murmurou pelo canto da boca.
Ele viu o lampejo de compreensão na expressão da Srta. Belfry. Ela deve ter percebido que o empurrou para o limite de sua zona de conforto, aliás, para além dele, e o que ela estava pedindo agora era uma impossibilidade.
"Na verdade", ela disse, recolhendo a caneta e recuando, "talvez mais alguém gostaria de tentar desenhar o que Oliver explicou?"
Samantha, uma das alunas impetuosas que ansiava por atenção, saltou e pegou a caneta da professora. Juntas, elas foram até o quadro e a Srta. Belfry ajudou-a a desenhar o que Oliver estava descrevendo.
Mas assim que a professora virou as costas, Oliver sentiu algo bater na parte de trás de sua cabeça. Ele se virou e viu uma bola de papel amassado a seus pés. Abaixou-se e pegou-a, sem querer abrir, sabendo que ali haveria uma mensagem cruel.
"Ei..." Paul sibilou. "Não me ignore. Leia o bilhete!"
Tenso, Oliver desdobrou a bola de papel. Ele alisou o papel sobre a mesa. A mensagem, escrita numa letra terrível, era: Adivinha o que mais pode voar?
Então, ele sentiu outra coisa bater sua cabeça. Outra bola de papel. Foi seguida por outra e outra e mais outra.
"Ei!" Oliver gritou, virando-se com raiva.
A Srta. Belfry também se virou. Ela franziu a testa ao ver a cena.
"O que está acontecendo?" perguntou.
"Estamos apenas tentando descobrir coisas que voam", disse Paul, inocentemente. "Uma deve ter atingido Oliver por acidente".
A Srta. Belfry parecia não acreditar. "Oliver?" ela perguntou, virando-se para ele.
Oliver sentou-se, encolhendo-se. "É verdade", ele murmurou.
A essa altura, a impetuosa Samantha havia terminado seu desenho e a professora voltou sua atenção para a turma. Ela apontou para o quadro, onde agora havia um diagrama de uma asa, não reta, mas curvada como uma lágrima esticada para os lados. Duas linhas pontilhadas indicavam os caminhos do ar passando acima da asa e abaixo dela. O fluxo de ar que passa por cima da asa parecia diferente em comparação com o fluxo diretamente abaixo dela.
"Assim?", ela perguntou. "Mas eu ainda não entendo como isso produz sustentação".
Oliver sabia muito bem que a Srta. Belfry sabia de tudo, mas como havia acabado de ser atingido por bolas de papel, estava relutante em falar de novo.
Então, ele percebeu algo. Nada do que fizesse iria deter a provocação. Ou ele ficava ali em silêncio e sendo provocado por não fazer nada, ou ele falava e seria provocado por sua inteligência. Ele percebeu então o que preferia.
"Seguindo por caminhos diferentes, o ar cria uma força descendente", explicou. "E se tomarmos a terceira lei de Isaac Newton - que toda ação produz uma reação igual e oposta - você pode ver como a reação resultante a essa força, à força descendente, é que o ar que passa sob a asa cria a sustentação".
Ele cruzou os braços e se sentou.
A Srta. Belfry parecia triunfante. "Isso está certo, Oliver".
Ela voltou para o desenho e adicionou flechas. Oliver sentiu uma bola de papel bater em sua cabeça, mas desta vez ele nem reagiu. Não se importava mais com o que seus colegas de classe pensavam dele. Na verdade, eles provavelmente estavam com inveja por ele ter um cérebro e conhecer coisas legais, como as leis de física de Isaac Newton, quando tudo o que conseguiam era amassar uma folha de papel e jogar na cabeça de alguém.
Ele cruzou os braços com mais força e, ignorando as bolas de papel que lhe batiam na cabeça, concentrou-se na imagem da Srta. Belfry. Ela estava desenhando uma flecha apontando para baixo. Ao lado, ela escreveu força descendente. A outra flecha que ela desenhou apontava para cima, com a palavra sustentação.
"E quanto aos balões de ar quente?", uma voz desafiadora veio de trás. "Eles não funcionam dessa maneira, mas ainda assim voam".
Oliver se virou, procurando pelo dono da voz. Era um garoto mal encarado, com sobrancelhas escuras e espessas, covinha no queixo, que havia se juntado a Paul para jogar as bolas de papel.
"Bem, aí está em ação uma lei completamente diferente", Oliver explicou. "O balão voa porque o ar quente sobe. Os irmãos Montgolfier, que inventaram o balão de ar quente, perceberam que, se você prender o ar dentro de algum tipo de invólucro, como um balão, ele se torna flutuante devido à menor densidade do ar quente em comparação com o ar frio do lado de fora".
O menino apenas pareceu mais irritado com a explicação de Oliver. "Bem, e os foguetes?", Ele desafiou ainda mais. "Eles não têm invólucro, ou seja o que for que você acabou de dizer. Mas sobem. Como eles funcionam, CDF?"
Oliver apenas sorriu. "Isso remete novamente à terceira lei sobre movimento de Isaac Newton. Só que nesse caso a força é a propulsão, não o lift, ou sustentação. Propulsão é a mesma coisa que move um trem a vapor. Uma grande explosão em uma extremidade produz uma reação oposta de propulsão. Só que, com um foguete, é preciso chegar ao espaço, então a explosão tem que ser muito grande".
Oliver podia se sentir cada vez mais animado quando falava sobre essas coisas. Mesmo que todas as crianças estivessem olhando para ele como se ele fosse uma aberração, não se importava.
Ele se virou para a frente da sala. Ali, sorrindo orgulhosamente, estava a Srta. Belfry.
"E você sabe o que todos esses inventores tinham em comum?", ela perguntou. "Os Montgolfiers e os Wrights e Robert Goddard, que lançaram o primeiro foguete movido a propelente líquido? Eu vou te dizer o quê. Eles fizeram coisas que a maioria dizia ser impossível! Suas invenções eram malucas. Imagine alguém dizendo que poderíamos usar os mesmos princípios das antigas catapultas chinesas para lançar um homem no espaço! E, no entanto, eles se tornaram inventores revolucionários, cujas invenções mudaram o mundo e toda a trajetória da humanidade!"
Oliver sabia que ela estava falando com ele, dizendo-lhe que não importava o que as pessoas fizessem ou dissessem, ele nunca deveria ser intimidado a ficar em silêncio.
Então algo notável aconteceu. Em resposta à paixão e entusiasmo da Srta. Belfry, a turma ficou em silêncio. Não o silêncio tenso de um ataque latente, mas o silêncio humilde de ter aprendido algo inspirador.
Oliver sentiu um nó no estômago. A Srta. Belfry era realmente uma professora incrível. Ela era a única pessoa que havia demonstrado um nível de animação parecido ao que ele tinha pela física, ciência e inventores, e sua animação até conseguiu silenciar seus colegas turbulentos, ainda que apenas temporariamente.
Nesse momento, uma enorme rajada de vento fez as vidraças chacoalharem. Todos pularam em uníssono e viraram os olhos para o céu cinzento do lado de fora.
"Parece que a tempestade chegará em breve", disse ela.
Assim que disse isso, a voz do diretor surgiu pelo alto-falante.
"Alunos, acabamos de receber um aviso do Serviço Nacional de Meteorologia. Esta será a tempestade do século, algo que nunca vimos antes. Realmente não sabemos o que esperar. Então, por questões de segurança, o prefeito mandou cancelar as aulas de hoje.
Todos começaram a gritar animadamente e Oliver se esforçou para ouvir as últimas palavras do anúncio do diretor.
"A tempestade deve chegar em uma hora. Existem ônibus lá fora. Por favor, vão direto para casa. O aviso oficial é não sair quando a tempestade chegar, em aproximadamente uma hora. Este é um aviso que vale para toda a cidade, então, seus pais estão esperando por vocês em casa. Qualquer um que for pego desobedecendo as instruções será suspenso".
Ao redor de Oliver, ninguém parecia se importar. Tudo o que ouviram foi que as aulas foram suspensas e agora queriam aproveitar ao máximo. Pegaram seus livros e correram para fora da sala de aula como uma debandada de búfalos.
Oliver recolheu suas coisas mais devagar.
"Você se saiu muito bem hoje", disse a Srta. Belfry enquanto colocava todos os seus pequenas modelos em sua bolsa. "Poderá chegar em casa bem?" ela parecia preocupada com o bem-estar dele.
Oliver assentiu para tranquilizá-la. "Eu vou pegar o ônibus com todos os outros", disse ele, percebendo que isso significava uma longa viagem com Chris. Ele estremeceu.
Oliver colocou a alça de sua mochila por cima do ombro e seguiu o resto das crianças até o lado de fora. O céu estava tão escuro que parecia preto. Muito sinistro.
De cabeça baixa, Oliver começou a andar em direção ao ponto de ônibus. Mas então, ele viu algo atrás de si, algo muito mais assustador do que uma nuvem negra de tempestade tropical: Chris. E correndo ao lado dele estavam seus comparsas.
Oliver se virou e fugiu. Foi direto para o primeiro ônibus na fila. O veículo estava abarrotado de crianças e prestes a partir. Sem nem mesmo verificar para onde estava indo, Oliver se jogou a bordo.
Bem na hora. O mecanismo assobiou e a porta se fechou atrás dele. Uma fração de segundo depois, Chris apareceu do outro lado, encarando-o ameaçadoramente. Seus comparsas se aproximaram e todos ficaram olhando para Oliver pela porta, que na verdade não passava de um fino escudo de vidro protetor.
O ônibus partiu, afastando Oliver de seus rostos ferozes.
Ele ficou olhando pela janela enquanto o ônibus se afastava e começava a acelerar. Para tristeza de Oliver, Chris e seus amigos entraram direto no ônibus que vinha atrás. O veículo também se afastou do colégio, seguindo-o de perto.
Oliver engoliu em seco, em pânico. Com Chris e seus amigos a apenas um ônibus de distância, ele sabia que, se o vissem sair, eles também desceriam. Então o atacariam e ele seria esmurrado. Ele mordeu o lábio com preocupação, sem saber o que fazer. Se ao menos sua capa de invisibilidade realmente existisse. Agora seria a hora de usá-la!





