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Vejo Ben sentado ali, encolhido, tremendo, e me lembro das calças que eu peguei. Levanto-me, o barco balança com força quando o faço, dou alguns passos em direção ao saco e tiro as calças de dentro. Eu as jogo para Ben.
Elas aterrissam em seu peito e ele olha para mim, confuso.
“Elas devem servir,” eu digo. “Experimente.”
Ele está usando jeans surrados, cheios de buracos, finos, e molhados com água. Aos poucos, ele se inclina e tira suas botas, então desliza as calças de couro por cima de seus jeans. Elas ficam engraçadas neles, as calças militares do comerciante de escravos – mas, como eu suspeitava, servem perfeitamente. Ele puxa o zíper, calado, enquanto se inclina para trás, e posso ver gratidão em seus olhos.
Sinto Logan olhando para mim e que ele está com ciúmes de minha amizade com Ben. Ele está assim desde que viu Ben me dar um beijo lá na Estação Penn. É esquisito, mas não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Eu gosto dos dois, de diferentes jeitos. Nunca havia conhecido duas pessoas opostas – e, mesmo assim, de algum jeito, eles me lembram um ao outro.
Eu vou em direção a Bree, ainda tremendo, abraçada a Rose e com Penélope em seu colo, e me sento ao seu lado, coloco um braço em volta dela e a beijo na testa. Ela pousa a cabeça em meu ombro.
“Está tudo bem, Bree,” eu falo.
“Estou faminta,” ela me diz baixinho.
“Eu também,” Rose ecoa.
Penélope geme baixinho, e posso falar que ela também está com fome. É a cachorra mais inteligente que já conheci. E corajosa, apesar de seu tamanho. Mal consigo acreditar que ela mordeu Rupert quanto ela o fizera; se não fosse por ela, talvez nós não estivéssemos aqui. Eu me inclino e acaricio sua cabeça, ela me lambe de volta de satisfação.
Agora que elas falaram de comida, percebo que é uma boa ideia. Eu tenho tentado ignorar as reclamações de meu estômago há tempo demais.
“Vocês estão certas,” eu digo. “Vamos comer.”
As duas olham para mim com os olhos arregalados de expectativa e ansiedade. Eu fico em pé, cruzo o barco e vou até um dos sacos. Tiro dois potes grande de geleia de framboesa e entrego um a Bree, tirando a tampa antes.
“Vocês dividem este vidro,” eu digo a elas. “E nós três iremos dividir o outro.”
Eu abro o outro pote e o entrego para Logan, que mete um dedo na geleia, pega uma boa quantia e a leva para sua boca. Ele suspira de satisfação – ele devia estar morrendo de fome
Entrego o pode para Ben, que faz o mesmo e então, eu mesma coloco meus dedos no pote, tiro um pouco de geleia e a experimento. Sinto o açúcar na minha circulação quando sinto o gosto de framboesas na boca. É, possivelmente, a melhor coisa que eu já comi. Sei que não é uma refeição, mas se parece com uma.
Parece que eu sou a guardiã da comida, então eu me dirijo ao baú e pego o que sobrou dos cookies, então dou um para cada um, inclusive para mim. Eu olho para o lado e vejo Bree e Rose comendo alegremente a geleia; a cada punhado que elas pegam, oferecem um pouco a Penélope. Ela lambe seus dedos como louca, choramingando. A coitadinha deveria estar com tanta fome quanto nós.
“Ele vão voltar, você sabe,” ouço uma voz sinistra ao meu lado.
Eu me viro e vejo Logan sentado, limpando sua pistola, olhando para mim.
“Você sabe disso, certo?” ele pressiona. “Somos presas fáceis aqui.”
“O que você sugere?” eu pergunto.
Ele dá de ombros e desvia o olhar, desapontado.
“Nós nunca deveríamos ter parado. Deveríamos ter seguido em frente, como eu havia dito.”
“Bom, é tarde demais agora,” eu retruco, irritada. “Pare de reclamar.”
Estou ficando farta de seu pessimismo o tempo inteiro, cansada de nossa disputa pela liderança. Eu não gosto de tê-lo por perto, tanto quanto eu gosto de sua companhia, ao mesmo tempo.
“Nenhuma de nossas opções é boa,” ele começa. “Se seguirmos rio acima esta noite, podemos nos encontrar com eles. Podemos arruinar o barco também. Colidir contra um pedaço de gelo flutuante ou algo assim, eles provavelmente nos pegariam. Se partirmos ao amanhecer, eles poderão nos ver à luz do dia. Poderíamos navegar, mas eles também podem esperar por nós.”
“Então vamos partir de manhã,” eu concluo. “Ao amanhecer. Vamos parar o norte e vamos rezar para que eles tenham dado a volta e estejam indo para o sul.”
“E se eles não estiverem?” ele questiona.
“Você tem alguma ideia melhor? Nós temos que nos afastar das cidades, não ir perto delas. Além disso, o Canadá fica ao norte, não é?”
Ele se vira, olha para outro lado e suspira.
“Poderíamos ficar por aqui,” ele fala. “Esperar alguns dias. Assegurar-nos que eles passem primeiro por nós.”
“Com este tempo? Se não arranjarmos abrigo, iremos morrer de frio. E até lá, estaremos sem comida. Não podemos ficar aqui. Precisamos continuar andando.”
“Ah, agora você quer continuar em frente,” ele cutuca.
Eu o encaro – ele está realmente começando a me irritar.
“Tudo bem,” ele fala. “Vamos partir ao amanhecer. Até lá, se iremos passar a noite aqui, teremos que ficar de guarda. Em turnos. Eu começo, e depois vai você e depois Ben. Vocês dormem agora. Nenhum de nós dormiu ainda e todos nós precisamos. Fechado?” ele pergunta, olhando de Ben para mim e de mim para Ben.
“Fechado,” eu respondo. Ele esta certo.
Ben não se manifesta. Ele continua olhando para o nada, perdido em seus próprios pensamentos.
“Ei,” Logan fala secamente, se abaixando e lhe chutando o pé, “estou falando com você Fechado?”
Ben lentamente se vira e olha para ele, ainda parece desnorteado, então concorda. Mas não sei dizer se ele realmente o escutara. Eu me sinto tão mal por Ben; é como se ele não estivesse realmente aqui. Obviamente, ele está dominado pela tristeza e culpa por seu irmão. Não consigo nem imaginar pelo que ele está passando.
“Ótimo” Logan fala. Ele verifica sua munição, apronta sua arma e salta do barco para as docas ao nosso lado. O barco balança, mas não se afasta muito. Logan fica em pé nas pedras secas, examinando os arredores. Ele se senta em um pedaço de madeira e olha para a escuridão, sua arma apoiada em seu colo.
Eu fico junto com Bree, coloco meu braço ao seu redor. Rose também se aproxima e eu a abraço.
“Vocês tem que descansar pouco. Teremos um longo dia amanhã,” eu digo, secretamente pensando se esta será nossa última noite na terra. Pergunto-me até se haverá um amanhã.
“Não até eu tomar conta de Sasha,” Bree falas.
Sasha. Eu havia quase me esquecido.
Olho para o lado e vejo o corpo congelado de nossa cachorra do outro lado do barco. Mal consigo acreditar que nós a trouxemos para cá. Bree é uma dona muito leal.
Bree se levanta e, silenciosamente, cruza o barco e fica junto a Sasha. Ela se ajoelha e lhe acaricia a cabeça. Seus olhos brilham com a luz da lua.
Ando até elas e me abaixo ao seu lado. Também acaricio Sasha, eternamente grata por ela ter nos protegido.
“Posso ajudá-la a enterrá-la?” eu pergunto.
Bree diz que sim com a cabeça, ainda olhando para baixo, derramando uma lágrima.
Juntas, nós pegamos Sasha e a levamos até a lateral do barco. Nós a seguramos ali, nenhuma de nós quer soltá-la. Olho para a água gelada do Hudson abaixo de nós, há ondas se formando.
“Você quer dizer alguma coisa?” eu pergunto, “antes de soltá-la?”
Bree olha para baixo, tentando afastar as lágrimas, seu rosto é iluminado pela luz do luar. Ela parece um anjo.
“Ela era uma cachorra maravilhosa. Salvou minha vida. Eu espero que ela esteja em um lugar melhor agora. E espero que eu a veja de novo um dia,” ela diz, sua voz fraquejando.
Nós nos esticamos o máximo que conseguimos e, gentilmente colocamos Sasha na água. Com um pouco de água espirrando, seu corpo encontra a água. E flutua por um segundo ou dois, e então começa a afundar. As ondas do Hudson são fortes e, rapidamente, a levam, rumo ao mar aberto. Nós a observamos, meio submersa, sob a luz da lua, indo cada vez mais longe. Sinto meu coração apertar. Lembro-me de como estive perto de perder Bree de verdade, de ser arrastada pelo Hudson, assim como Sasha.
*Eu não sei quantas horas passaram. Agora deve ser tarde da noite e estou deitada no barco, encolhida junto com Bree e Rose, pensando, sem conseguir dormir. Nenhuma de nós disse uma palavra sequer desde que colocamos Sasha na água. Ficamos apenas sentadas, caladas, enquanto o barco levemente se mexe. A alguns metros de nós, está Ben, também perdido em seus próprios pensamentos. Ele parece mais morto do que vivo; às vezes, quando olho para ele, sinto que estou vendo um fantasma. É esquisito: estamos todos juntos, aqui, mas, ao mesmo tempo, estamos em mundos completamente diferentes.
Logan está a uns dez metros, de guarda, vigiando o píer, segurando sua arma, enquanto ele examina os arredores. Eu consigo imaginá-lo como um soldado. Estou agradecida de ele estar nos protegendo, vigiando o primeiro turno. Estou exausta, meus ossos estão cansadas e eu não quero pegar o próximo turno. Sei que eu devera dormir, mas não consigo. Ficar aqui, com Bree em meus braços, deixa minha mente a mil por hora.
Penso em como este mundo está maluco, completamente maluco agora. Eu mal posso acreditar que tudo isso é real. É como se fosse um longo pesadelo que nunca acaba. Toda vez que eu me sinto segura, acontece alguma coisa. Pensando bem, eu mal consigo entender em como estive perto de ser morta por Rupert. Foi tão estúpido de minha parte ter pena dele, deixá-lo vir conosco. Ainda não consigo compreender porque ele ficou doido. O que ele achou que iria ganhar com isso? Ele estava tão desesperado que seria capaz de matar todos nós, pegar nosso barco e desaparecer – apenas para ter mais comida para si mesmo? E para onde ele levaria tudo isso? Ele era apenas mal? Psicótico? Ou ele era um bom homem e todos estes ano de solidão e fome e frio o enlouqueceram?
Quero acreditar na última razão, que ele era, no fundo, um bom homem que enlouqueceu devido às circunstâncias. Assim espero. Mas jamais saberei.
Fecho meus olhos e penso como cheguei perto de ser assassinada, ainda consigo sentir o frio metálico de sua faca em minha garganta. Da próxima vez, não confiarei em ninguém. Não pararei por ninguém. Não acreditarei em mais ninguém. Farei o que dor possível para garantir que Bree, Rose, eu e os outros sobrevivamos. Sem mais riscos. Sem mais perigos. Se eu precisar me tornar indiferente, insensível, que assim seja.
Pensando em tudo o que passamos, sinto que cada hora no Hudson foi uma batalha de vida ou morte. Nem imagino como poderemos passar por todos os obstáculos e chegar ao Canadá. Ficaria surpresa se conseguíssemos sobreviver pelos próximos dias, até mesmo os próximos quilômetros na água. Sei que as chances não são boas. Abraço Bree com força, sabendo que esta pode ser nossa última noite juntas. Pelo menos iremos perecer batalhando, sobre nossos próprios pés, e não como escravos ou prisioneiros.
“Eu tive tanto medo,” Bree fala.
Sua voz me pega se surpresa na escuridão. É tão suave, pergunto-me até se ela falou algo mesmo. Ela não diz uma palavra há horas, achei que estivesse dormindo.
Eu me viro e vejo que Bree está de olhos abertos, me encarando, assustada.
“Teve medo de que, Bree?”
Ela balança sua cabeça e espera vários minutos antes de responder. Percebo que ela está lembrando-se de algo.
“Eles me sequestraram. Eu estava sozinha. E então me colocaram em um ônibus e depois em um barco. Estávamos todas acorrentadas umas as outras. Eles me levaram para dentro daquela casa, você não acreditaria nas coisas que eu vi naquela dia. As coisas que eles fizeram com as outras garotas. Anda consigo ouvir seus gritos. Não consegue esquecer.”
Seu rosto se contorce quando ela começa a chorar.
Meu coração se parte em um milhão de pedaços. Nem consigo imaginar as coisas pelas quais ela passou. Não quero que ela pense nisso. Sinto que ela levará cicatrizes para sempre, e é tudo minha culpa.
Eu a abraço e lhe dou um beijo em sua testa.
“Shhh,” eu sussurro. “Agora está tudo bem. Tudo isso ficou para trás agora. Não fique pensando nessas coisas.”
Mas, mesmo assim, ela continua chorando.
Bree afunda seu rosto em meu eito e eu a embalo enquanto ela continua chorando.
“Desculpe querida,” eu digo. “Eu sinto muito.”
Gostaria de poder libertá-la de todo o sofrimento. Mas não posso. Faz parte dela agora. Eu sempre quis protegê-la, protegê-la de tudo. E agora seu coração está cheio de temores.
Enquanto a embalo, desejo estar em qualquer lugar menos aqui. Gostaria que as coisas fossem como elas foram um dia. Quando o mundo era bom. Quando nossos pais estavam conosco. Mas é impossível. Estamos aqui.
E eu tenho uma crescente sensação de que tudo só irá piorar.
*Acordo e percebo que é dia. Não sei como já é tão tarde de manhã ou como eu dormi por tanto tempo. Olho ao nosso redor no barco e estou completamente desorientada. Não entendo o que está acontecendo. Nosso barco está flutuando, à deriva no Hudson, no meio deste enorme rio. Bree e eu somos as únicas no barco. Não sei onde estão os outros e não entendo como fomos parar aqui.
Nós duas estamos no canto do barco, olhando para o horizonte e eu vejo o barco dos comerciantes de escravos acelerando em nossa direção.
Tento entrar em ação, mas sinto que meus braços estão presos em minhas costas. Eu me viro e vejo que há vários comerciantes de escravos no barco, eles me algemaram e estão me prendendo por trás. Tento lutar de todos os jeitos para me soltar, mas é inútil.
O barco dos comerciantes de escravos para e um deles sai, sua máscara cobrindo seu rosto, ele entra em nosso barco e agarra Bree. Ela se contorce, mas não é páreo para ele. Ele a levanta com um só braço e começa a levá-la.
“BREE! NÃO!” eu grito.
Eu luto com todas as minhas forças, mas é inútil. Sou forçada a ficar parada e assistir eles arrastarem Bree, chutando e berrando no barco. O barco deles vai embora com a correnteza, em direção a Manhattam, Logo, ele desaparece no horizonte.
Enquanto vejo minha irmãzinha ser levada para longe de mim, eu sei que a perdi para sempre.
Eu grito, um grito sobrenatural, implorando, chorando, que minha irmã voltasse para mim.
Acordo suando. Eu me sento ereta, respirando com força, olho ao meu redor, tentando entender o que aconteceu.
Foi um sonho. Olho para meu lado e vejo Bree, todos estão dormindo no barco. Foi tudo um sonho. Ninguém veio. Ninguém sequestrou Bree.
Tento normalizar minha respiração, meu coração ainda acelerado. Olho para o horizonte e vejo que o sol começa a nascer, um pequeno brilho aparece ao longe. Olho para as docas e vejo Ben fazendo guarda. Lembro que Logan veio me acordar e que eu fiquei vigiando por um tempo. Depois eu acordei Ben, lhe dei a arma e ele ficou no mesmo lugar. Eu devo ter dormido depois disso.
Enquanto fico olhando Ben, percebo que ele está caído. Posso ver daqui, com a fraca luz do dia, que ele também está dormindo. Ele deveria estar de guarda. Estamos indefesos.
De repente, eu detecto uma movimentação, sombras na escuridão. Parece um grupo de pessoas, ou criaturas, vindo em nossa direção. Pergunto-me se meus olhos estão pregando uma peça em mim.
Mas então meu coração começa a bater desesperadamente em meu peito, minha boca fica seca e eu percebo que não estou vendo coisas.
Estamos despreparados. E há pessoas nos emboscando.
C I N C O
“BEN!” eu grito, me levantando.
Mas é tarde demais. Um segundo depois, eles nos atacam.
Um tomou conta de Ben, golpeando-o enquanto outros dois vêm correndo em direção ao nosso barco.
O barco se mexe violentamente quando eles chegam à nossa embarcação.
Logan se acorda, mas não há tempo. Um dos homens vai em direção a ele, com sua faca a postos e está pronto para perfurar seu peito.
Meus reflexos se manifesta. Eu alcanço a faca em minha cintura e arremesso. Ela sai voando velozmente.
É um golpe perfeito. Ela se instala bem na garganta do homem, um segundo antes que ele possa esfaquear Logan. Ele cai, sem vido, por cima dele.
Logan e senta e se livra do cadáver, ele o derruba no rio, espirrando água. Por sorte, ele é sensato e tira minha faca do corpo antes disso.
Há mais dois vindo em minha direção. Com o sol nascendo, posso ver que não são homens: são mutantes. Metade homens metade eu não sei o que. Irradiados pela guerra. Loucos. Isso me assusta: est tipo, ao contrário de Rupert, são super fortes, malucos e não têm nada a perder.
Um deles vai em direção a Bree e Rose, não posso permitir isso. Vou atrás dele, derrubando-o no chão.
Nós dois caímos com força, o barco balança violentamente. Vejo Logan com o canto dos meus olhos, atacando outro pelas costas, golpeando-lhe com força e depois o joga para fora do barco.
Impedimos dois deles. Mas um terceiro vem para cima de nós.
O que eu havia golpeado se vira e me derruba. Ele está em cima de mim, é bem forte. Ele me dá um soco duro no rosto, sinto minha bochecha começar a arder.
Penso rápido: levanto um joelho e o atinjo bem entre as pernas.
É um golpe perfeito. Ele geme e se contorce e, enquanto isso, eu o alcanço e lhe dou uma cotovelada na cara. Há um barulho de osso se quebrando quando eu atinjo sua bochecha e ele cai no barco.
Eu o jogo para longe, para a água. Foi um movimento idiota. Eu deveria ter tomado suas armas antes. O barco de mexe violentamente quando ele cai no rio.
Agora me dirijo para o último, ao mesmo tempo de Logan.
Mas nenhum de nós é rápido o suficiente. Ele é mais rápido que nós e, por alguma razão, ataca Bree.
Penélope pula no ar, rosnado e perfura seus dentes em seu punho.
Ele a chacoalha como se fosse uma boneca de pano, tentando de livrar. Penélope continua pendurada até que ele a sacode com força e a manda voando para o outro lado do barco.
Antes que eu possa alcança-lo, ele está prestes a atingir Bree. Meu coração para quando eu vejo que não chegarei a tempo.
Rose pula para salvar Bree e fica no meio do ataque entre os dois. Ele levanta Rose, se inclina sobre ela e lhe dá uma mordida.
Rose solta um grito descomunal quando sua pele é dilacerada com seus dentes. É uma visão insana e terrível, uma que ficará para sempre em minha memória.
O homem se inclina para trás e está prestes a mordê-la de novo – mas, desta vez, eu consigo chegar a tempo. Tiro a faca extra de meu bolso, dou um impulso para trás e me preparo para atirá-la.
Mas antes que eu o faça, Logan dá um passo à frente, mira com sua pistola e atira.
Sangue se espalha por todo lugar quando o tiro passa pela parte de trás da cabeça do homem. Ele cai no chão e Logan se apressa para jogar o cadáver para fora do barco.
Corro para Rose, que grita histericamente, mal sabendo como confortá-la. Tiro um pedaço de minha camisa e logo envolvo seu braço, que sangra sem parar, tentando estancar o sangue o melhor que eu consigo.
Eu detecto uma movimentação com o canto de meu olho e percebo que um Louco está prendendo Ben no chão das docas. Ele se curva para trás, pronto para morder a garganta de Ben. Eu me viro e atiro minha faca. Ela sai voando e atinge a parte de trás do pescoço do homem. Seu corpo se enrijece e ele cai no chão.
Ben se senta, atordoado.
“Volte para o barco!” Logan berra. “AGORA!”
Ouço fúria na voz de Logan, e eu também estou brava. Ben deveria estar de guarda, não dormindo. Ele nos deixou vulneráveis a um ataque.
Ben volta para o barco e, quando ele o faz, Logan logo alcança a corda e a corta. Eu tento cuidar de Rose, berrando em meus braços, Logan toma conta do timão, ligando o barco e acelerando-o.
Nós saímos do canal ao amanhecer. Ele está certo e partirmos. Aquelas balas podem ter alertado alguém; quem sabe quanto tempo temos agora.
Deixamos o canal quando o céu está com coloração roxa, deixando vários corpos boiando para trás. Nosso abrigo logo se tornara um local de horrores, espero nunca mais vê-lo novamente.
Navegamos pelo centro do Hudson, o barco de mexendo enquanto Logan aperta mais o acelerador. Fico de guarda, olhando em todas as direções, procurando por um sinal dos comerciantes de escravos. Se eles estiverem perto de nós, não há como nos escondermos: os sons dos tiros, os berros de Rose, e o motor barulhento nos deixam completamente detectáveis.
Apenas rezo para, em algum ponto durante a noite, eles tenham retornado, procurando por nós e agora estejam bem mais para o sul do que estamos; se for assim, eles devem estar atrás de nós. Se não, iremos encontrá-los.
Se tivermos sorte, eles desistiram e voltaram para Manhattan. Mas eu duvido disso. Nunca tivemos muita sorte assim.
Que nem esses Loucos. Foi muita má sorte nossa parar o barco ali. Ouvi rumores de que gangues predatórias de Loucos haviam virado canibais, que sobreviviam comendo outras pessoas, mas eu nunca havia acreditado nisso. Ainda é difícil acreditar que seja verdade.
Seguro Rose sim força, sangue escorrendo de sua ferida, caindo em minha mão, eu a embalo, tentando consolá-la. Sua bandagem improvisada já está vermelha, então eu tiro mais um pedaço da minha blusa, minha barriga fica exposta ao frio, e eu substituo seu curativo. É pouco higiênico, mas é melhor que nada, preciso estancar o sangue de alguma maneira. Gostaria de ter algum medicamento, antibióticos ou pelo menos analgésicos – qualquer coisa eu pudesse lhe dar. Quando retiro sua bandagem, vejo o pedaço de carne que lhe falta no braço e desvio meu olhar, tentando não pensar na dor que ela deve estar sentindo. Deve ser terrível.
Penélope está sentada em seu colo, chorando, olhando para ela, obviamente, ela também quer ajudar. Bree parece traumatizada mais uma vez, ela segura a mão de Rose, tentando não chorar. Mas ela está inconsolável.
Eu desejo desesperadamente que eu tivesse um calmante – qualquer um. E, de repente, eu me lembro. Aquela garrafa de champanhe, meio bebida. Corro para a frente do barco e volto com ela.
“Beba isso,” eu falo.
Rose chora histericamente, berrando e dor e nem percebe que estou ali.
Seguro a garrafa em seus lábios e a faço beber. Ela quase se engasga com a bebida, cuspindo um pouco para fora, mas ela consegue tomar um pouco.
“Por favor, Rose, beba. Vai ajudar.”
Eu inclino a garrafa novamente contra sua boca e, entre seus gemidos, ela toma mais alguns goles. Sinto que não é certo dar álcool a uma criança, mas espero que isso ajude a aliviar sua dor, não sei mais o que fazer.
“Encontrei umas pílulas,” ouço uma voz.
Eu me viro e vejo Ben ali, parecendo alerta pela primeira vez. O ataque, o que acontecera a Rose, deve tê-lo acordado para a vida, talvez porque ele se sinta culpado por ter adormecido quando deveria estar em guarda. Ele fica ali, estendendo o pequeno frasco de pílulas.
Eu o pego e o examino.
“Achei no armário,” ele diz. “Não sei o que são.”
Leio o rótulo: Ambien. Pílulas soníferas. Os comerciantes de escravos devem ter guardado para ajudá-los a adormecer. A ironia disso: ali estão eles, mantenho os outros acordados a noite inteira e guardando pílulas para conseguirem dormir. Mas, para Rose, isto é perfeito. Exatamente o que precisamos.
Eu não sei quanto devo lhe dar, mas preciso acalmá-la. Entrego-lhe a garrafa de champanhe de novo e me certifico de que ela tome um gole, depois lhe dou duas pílulas. Guardo o resto no meu bolso para não perdê-las e depois fico de olho em Rose.
Em minutos, a bebida e o sonífero começam a fazer efeito. Aos poucos, seus gemidos viram choro e então este fica abafado. Depois de uns vinte minutos, seus olhos se fecham e ela adormece em meus braços.
Espero mais dez minutos para ter certeza de que ela está dormindo e então olho para Bree.
“Você pode segurá-la?” eu pergunto.
Bree se apressa para chegar ao meu lado e eu lentamente me levanto e coloco Rose em seus braços.
Eu fico em pé, minhas pernas estão com câimbras e vou até a frente do barco, ao lado de Logan. Continuamos indo rio acima, o céu vai se iluminando enquanto eu olho para a água, sem gostar do que estou vendo.
Pequenos pedaços de gelo começam a se formar no Hudon nesta manhã congelante. Posso ouvi-los tocando o barco. É a última coisa que precisamos.
Mas eu tenho uma ideia. Eu me inclino sobre o barco, a água espirra em meu rosto e eu coloco minhas mãos na água fria. É doloroso até de tocar, mas eu me forço a enfiar minha mão inteira, tentando agarrar um pedaço de gelo. Estamos indo bem rápido e é difícil pegar um. Continuo falhando por alguns centímetros.
Finalmente, depois de um minuto de agonia, eu alcanço um. Levanto minha mão, tentado livrá-la do frio e entrego o gelo para Bree.