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Mas a arma não disparou.
Em vez disso, uma nuvem de vapor azul-esverdeado saiu do cano, inundando os pulmões de Luna com cada respiração. Ela avançou para ele para quebrar a arma no meio, e provavelmente quebrá-lo também, mas a coisa mais estranha aconteceu quando seus braços estavam a meio caminho.
Ela parou.
Em um único momento, ela congelou no lugar, seu coração batendo mais e mais rápido. Sentiu seu mundo inteiro girar.
Luna caiu de joelhos sem querer. Sentiu eles arranhando na calçada, realmente sentiu, e a sensação retornando era como sangue correndo de volta para um braço ou perna adormecido. Doeu e ela gritou.
Não podia acreditar.
Estava de volta.
De volta a si mesma. Não mais controlada.
Ela se cravou em suas memórias, se certificando que ainda estavam lá; que não tinham apenas se perdido para sempre. Pensou no rosto de Kevin, e seus pais como eles eram no primeiro aniversario de que podia lembrar. Soltou um suspiro de alívio, e não só por si mesma. Isso significava que as pessoas que tinham sido transformadas não estavam perdidas.
Queria berrar de alegria. Se levantar e abraçar esse homem e nunca soltar.
Olhou para ele admirada.
Ele sorriu de volta de um jeito curioso, acadêmico.
“Ora,” ele disse, “você parece estar respondendo muito mais rápido do que nos outros sujeitos em que eu tentei. Ah, perdão, e as minhas maneiras? Meu nome é Ignatius Gable. O vapor que você acabou de respirar é a vacina que eu criei para combater os efeitos do controle alienígena. Deve sentir o controle completo do seu corpo retornado. Agora, tenho certeza que têm muitas questões sobre o que está acontecendo, mas não podemos ficar papeando aqui. Então, a não ser que nós dois queiramos morrer de vez, sugiro que venha comigo.”
Ela piscou, surpresa, e seguiu o olhar dele para ver inúmeros controlados se aproximando.
“AGORA!” ele gritou.
Os controlados desceram sobre eles como um enxame. Luna só pode assistir enquanto eles se amontoavam, tentando agarrá-los. Ignatius usou o spray de sua arma, mas para os outros, não parecia funcionar.
Luna saiu correndo, se jogando na multidão e passando pelos espaços vazios com toda vantagem que tinha por ser menor que a maior parte das pessoas ali. Se atirou debaixo de braços e correu por entre pernas, agarrando o braço de Ignatius e segurando forte.
Luna viu Cub, e Bear, e o resto deles, agarrou a arma e se virou.
“O que você está fazendo?” Ignatius gritou alarmado.
Ela espirrou uma nuvem que começou a desacelerar os controlados a sua volta, mirando em Cub e Bear e todo o resto.
“Anda,” ela disse, o dedo preso no gatilho. “Muda!”
Luna viu Cub começar a piscar na luz do sol, esticando as mãos e encarando os dois.
Olhou em volta até ver Bobby nas sombras de um prédio e ergueu a mão para ele.
Então ela se virou com os outros e correu.
E não parou de correr.
CAPÍTULO QUATRO
Kevin se encolheu quando Xan Mais Puro entrou na sala em que ele e Chloe estavam. Ficar lá parado sozinho e esquecido já era ruim o bastante, mas de algum modo ele sabia que não seria tão ruim quanto qualquer coisa que o alien quisesse fazer agora.
“Medo é uma fraqueza,” Xan Mais Puro disse, as palavras saindo um momento depois através do tradutor. “Apenas uma das muitas que superamos.”
“O que quer dizer?” Kevin perguntou. Tentou segurar o medo que sentia também, porque não queria que o alien visse.
Chloe parecia assustada o bastante pelos dois, mas também com raiva. Se a gravidade retorcida não estivesse lá, segurando os dois nas armações, Kevin suspeitava que ela teria atacado o alien.
“Uma vez, fomos seres mais fracos,” Xan Mais Puro disse, gesticulando de forma que uma sessão da parede se transformou em uma tela, mostrando coisas que eram e não eram como os Mais Puros, ao mesmo tempo. Não tinham a pele tão lisa, ou a mesma graça ou aparência de perfeição, e certamente não tinham o senso de implacabilidade fria dos Mais Puros. Pareciam com o tipo de coisa que os Mais Puros podiam ter sido há muito, muito tempo.
“Nós lutamos e guerreamos uns com os outros. Transformamos nosso planeta natal em um lugar praticamente inabitável com as armas que usamos.”
A imagem na tela mudou, exibindo um mundo que começou verde e bonito, apenas para toda vida vegetal murchar e morrer, explosões cascateando pela superfície, fogo e vento se espalhando em ondas do que pareciam ser os corações das cidades.
“Tivemos que nos adaptar.”
“Atacando os mundos de outras pessoas,” Kevin disse. “Nos enganando pra te deixarmos entrar e tomar a mente das pessoas.”
“Vocês são malignos,” Chloe acrescentou. “São todos monstros.”
Xan Mais Puro olhou para eles sem um pingo de emoção. Kevin duvidava que a criatura era capaz de sentir, e de certa forma isso era mais assustador do que se Chloe estivesse certa. Essas criaturas não eram maliciosas, nem cheias de ódio, ou determinadas a destruir tudo que temiam. Agiam de forma tão fria e calma quanto uma geleira passando por uma cidade, sem se importar com as vidas lá dentro.
“Seus mundos não são importantes,” Xan Mais Puro disse. “Vocês não são da Colmeia. Não são dos Mais Puros.”
“Você acha mesmo que são as únicas coisas que importam no universo?” Chloe exigiu.
“Somos os Mais Puros,” Xan retrucou, como se isso explicasse tudo. “Criamos a Colmeia para resolver as guerras do nosso mundo. Ao nos unirmos, aprendemos a nos colocar acima da fraqueza de emoções. Aprendemos dos mundos mais próximos como transformar os inferiores em tudo que precisamos que sejam. Construímos as naves da Colmeia para nos transportar e juntar materiais com os quais regenerar nosso mundo para os Mais Puros.”
“Então você só pega e pega e não dá nada de volta,” Kevin disse.
“Tudo mais é inferior,” Xan Mais Puro disse. “Tudo é nosso.”
“Até a gente te impedir,” Chloe disse, lutando contra a gravidade que a segurava. Se fosse parecida com a gravidade que segurava Kevin no lugar, ele sabia que ela não tinha chance de se livrar, mas imaginou que dizer isso para ela não fosse fazê-la parar. Na verdade, provavelmente ia piorar as coisas.
“Você é fraca. Não pode impedir a Colmeia,” Xan Mais Puro disse.
“Então por que ainda estamos aqui?” Kevin perguntou. “Se acha que somos tão fracos e inúteis, por que não nos matou assim que chegamos na sua... nave?”
“Não destruímos o que é útil,” Xan Mais Puro disse. “Coletamos. É nosso propósito.”
Útil. Kevin não sabia se gostava da ideia de ser útil para um negócio desses. Pelo que tinha visto das criaturas que os aliens consideravam úteis, eles saíam remodelando sua carne, as transformando. Já tinha sentido a dor envolvida só dos aliens examinarem seus pensamentos. As visões que teve do planeta dos aliens foram ainda piores.
“Não quero ser útil pra você,” Kevin disse.
“Não tem escolha,” Xan Mais Puro disse. “Deveria ser grato. Os escolhidos de um planeta são tipicamente destruídos, para que não sejam... uma ameaça para nós. Você sobreviveu porque o permitimos.”
“Por quê?” Kevin insistiu.
Xan Mais Puro não respondeu por alguns momentos. Em vez disso, o alien se movimentou pela sala, ajustando alguns dos maquinários.
“Vão olhar nossos pensamentos de novo, Kevin,” Chloe disse, aterrorizada pela ideia. “Vão usar aqueles tentáculos de novo.”
“Não em você,” Xan Mais Puro disse, quase desdenhoso. “Será intrigante o bastante dissecá-la e remodelá-la. Sua mente é bastante interessante, mas você não é digna de mais.”
“Não pode dissecar a Chloe!” Kevin gritou, lutando contra a gravidade que o prendia. Ela o segurou na armação com facilidade, não importava o quanto lutasse. A pressão o achatava, como um peso pressionado no peito.
“Podemos fazer o que quisermos,” Xan Mais Puro disse. “Se esse é o melhor uso da fêmea para a Colmeia, é o que será feito. Mas seremos generosos. Você poderá escolher o que acontecerá com ela.”
“Então eu escolho que não seja dissecada!” Kevin disse.
“Depois que terminarmos,” Xan Mais Puro disse. “Quando você se juntar a Colmeia.”
“O quê?” Kevin disse. Balançou a cabeça. “De jeito nenhum.”
O alien se moveu na sua direção, o aparelho com tentáculos em seus dedos.
“Seu cérebro tem capacidades que são necessárias para a Colmeia,” Xan Mais Puro disse. “De forma que vai se juntar a nós.”
O alien fez soar como se fosse um fato inegável, simplesmente o jeito que o mundo funcionava. Fez a ideia soar tão óbvia e natural quanto água molhada, ou sol quente. Mas não havia nada natural sobre a coisa com tentáculos que Xan Mais Puro segurava.
“E daí?” Kevin exigiu, mais porque qualquer momento que pudesse adiar essa história parecia uma boa ideia. “Vai me transformar num dos Mais Puros que nem você? E aí eu perco todo meu cabelo e fico com esses olhos bizarros?”
Talvez se Kevin irritasse o alien o bastante, poderia distraí-lo do que estava para fazer. Claro, ele podia decidir fazer uma série toda de coisas muito piores, mas naquele momento, Kevin não podia imaginar nada pior do que se transformar num deles.
“Você não é dos Mais Puros,” Xan Mais Puro disse. “Mas pode ser transformado em um da Colmeia. Vai se transformar em nosso emissário, um de nossos escolhidos. Deveria se felicitar com a honra.”
“Acha que é uma honra pro Kevin ter o cérebro invadido?” Chloe exigiu.
“Não será uma invasão,” Xan Mais Puro disse. “Kevin irá nos receber. Irá concordar em ser um dos nossos.”
“Por que eu tenho que concordar?” Kevin exigiu. “Por que não faz isso logo se vai mesmo fazer, em vez de ficar com joguinhos?”
O alien pareceu quase ofendido, embora Kevin duvidasse que pudesse sentir essa emoção. Duvidava que pudesse sentir qualquer coisa.
“Não jogamos,” disse. “Mas os cérebros da sua espécie são delicados, e necessitamos do seu intacto para as tarefas que a Colmeia tem para você. Se lutar demais durante o processo, existe a possibilidade que ele seja... danificado.”
“Eu vou lutar,” Kevin prometeu. “Prefiro morrer do que fazer qualquer coisa pra te ajudar.”
O alien ficou parado o encarando, aparentemente sem compreender o que ele tinha dito. Franziu o rosto levemente, inclinando a cabeça para um lado como se escutasse algo que só ele podia ouvir. Kevin sentiu que estava tentando decifrá-lo, e decidir o que devia fazer no meio tempo.
“Sua declaração é tola,” Xan Mais Puro disse. “Render-se é do seu interesse. Poderá continuar a existir.”
“Já estou morrendo mesmo,” Kevin disse, lembrando-se do momento que o médico o diagnosticara com sua doença, explicado quão pouco tempo ele tinha para viver. “Acha que eu me importo com essas ameaças?”
O alien o encarou por mais alguns momentos, e de novo, e Kevin sentiu que recebia conselhos dos outros de sua espécie.
“Podemos salvá-lo,” ele disse, soltando as palavras como pesos de chumbo.
O choque que correu por Kevin era como água gelada. Os melhores cientistas que a Terra tinha para oferecer tinham tentado e falhado em ajudar. E agora aqui estavam os aliens, oferecendo sua saúde como se não fosse nada.
“É mentira,” ele disse. Tinha que acreditar que estava mentindo. “Você já mentiu sobre tanta coisa, acha que eu vou acreditar nisso?”
Pensou em todos os jeitos que eles tinham mentido para fazê-lo ajudar com a invasão da Terra. Tinham dito que eram refugiados procurando abrigo em outro planeta. Tinham dito que estavam fugindo da destruição, não a causando.
“Você viu o que podemos fazer,” Xan Mais Puro disse. “Podemos manipular a carne em modos que sua mente humana não pode imaginar. Os Mais Puros da Colmeia são preservados quase indefinidamente. Para nós faz todo sentido mantê-lo vivo. Poderíamos curá-lo, se fosse da Colmeia.”
O que Kevin poderia dizer a esse tipo de tentação? Era tudo que ele queria desde que o médico explicou o que estava acontecendo. Quando estava no instituto da NASA, secretamente tinha tido esperanças que um dos cientistas ali podia achar um jeito de ajudá-lo, acabar com os tremores e a dor. Tinha pensado que daria quase qualquer coisa para ficar bem de novo. Kevin precisou de tudo que tinha para sacudir a cabeça.
“Se preciso morrer pra que você não consiga o que queira, é isso que eu vou fazer,” Kevin disse. E era sério. Ele queria viver, tinha tido esperanças de se curar, mas nessa altura já tinha tido bastante tempo de aceitar o que ia acontecer com ele. Se morrer podia impedir os aliens... bom, ele não queria, mas faria.
“E quanto ao resto que a Colmeia pode oferecer?” Xan Mais Puro disse. “Estamos cientes que sua espécie valoriza amigos e família. Como um de nós, poderia decidir o que fazer com aqueles que controlamos.”
Kevin engoliu em seco, pensando em sua mãe, pensando em Luna. Havia tantas pessoas que ele conhecia na Terra, tão longe que não era mais visível no monitor. Se pudesse ajudá-los... não, se os aliens queriam alguma coisa dele, isso não ajudaria ninguém.
“E existe a questão da sua amiga aqui,” Xan Mais Puro disse. “Como este aqui disse, como membro da Colmeia, você poderia determinar o seu destino. Se não aceitar, realizaremos experimentos na fêmea enquanto você assiste.”
Kevin congelou, olhando do alien para Chloe e de volta.
“Não, Kevin. Não faz isso,” Chloe disse. Kevin podia ouvir seu desespero. “Deixa eles me matarem. O que for preciso!”
Kevin podia ouvir a sinceridade em sua voz, mas... não podia fazer isso. Não podia ficar lá e assistir enquanto Chloe morria. Sabia que iam fazer isso. Havia alguma coisa a respeito do modo frio e sem emoção em que Xan fez sua ameaça que a transformava em algo mais. Não exatamente uma ameaça, mas uma simples declaração do que aconteceria.
“Vamos transformá-lo de qualquer jeito,” Xan Mais Puro disse. “É simplesmente uma questão de quanto você lutará e quanto irá doer. Faça sua decisão, Kevin McKenzie.”
“Lute contra eles, Kevin,” Chloe disse. “Não desiste!”
Kevin olhou para ela, tentando não pensar em todas as coisas que os aliens podiam fazer com ela. Mas era impossível fazer qualquer coisa além de imaginar o que poderia acontecer se fizessem experimentos nela. Ele podia mesmo ficar parado assistindo se eles começassem a abri-la para descobrir como funcionava, ou transformá-la em alguma coisa que não era humana? Podia mesmo fazer isso, quando tudo que conseguiria era ser transformado a força?
Não podia, e sabia disso.
“Ok,” ele disse, odiando cada momento. “Pode fazer.”
“Teríamos feito de qualquer modo,” Xan Mais Puro assegurou. “Doerá mais quanto mais você resistir.”
“Kevin,” Chloe disse. “Por favor lute. Você tem que ficar você mesmo. Tem que ser forte.”
Essa, Kevin percebeu, era a única esperança. Eles não podiam se soltar. Não podiam lutar fisicamente. Sua única chance era se juntar a Colmeia, e de alguma forma conseguir manter suficiente de si mesmo...
Nem terminou o pensamento antes de Xan Mais Puro aplicar os tentáculos em seu crânio, e a Colmeia invisível perfurar seu cérebro.
Kevin gritou com a dor, veloz e súbita, como uma lança de gelo apunhalando os fundos de sua mente. Pensou que estava acostumado à dor; com sua doença, achou que sabia o que era sentir dor, mas agora percebia que não era nada comparado ao que estava acontecendo. Podia sentir os tentáculos explorando seus pensamentos e memórias, a sensação desconfortável e familiar demais, da última vez que os aliens tinham examinado sua mente.
Mas era diferente, porque os aliens não estavam só olhando dessa vez.
Kevin podia sentir a Colmeia dentro de seus pensamentos, mentes e mais mentes, interligadas e poderosas. Era frio e quente e doloroso ao mesmo tempo. Pareciam cacos de vidro raspando seus pensamentos. Podia sentir as massas de controlados nas beiradas, nem sequer uma parte verdadeira do todo. Podia sentir as bordas afiadas das criaturas de guerra, e os pensamentos mais lentos, mais macios das bestas de carga. E ali estavam os Mais Puros e seus servidores, fios brilhantes dentre a teia completa.
Venha para nós, eles urgiam, vozes profundas e sedutoras. Torne-se nós.
Kevin tentou se afastar, e o esforço doeu mais do que podia imaginar. Se escutou gritando, mas o som parecia vir de muito longe. Eram como garras prendendo-o no lugar, enganchadas em seu cérebro, poderosas demais para ignorar.
Mesmo assim, Kevin lutou. Podia sentir a Colmeia se movendo dentro dele, conquistando partes de sua mente como um exército invasor conquista campos e cidades. Kevin começou a esconder pedaços de si mesmo, lembrando como tentou esconder quão assustado estava pelo bem da mãe, tentando ocultar tudo que podia enquanto os aliens continuavam a avançar em sua mente. Se conseguisse esconder o suficiente, poderia ser capaz de se manter a parte da Colmeia. Podia continuar a ser ele mesmo.
Sentiu o momento quando foi conectado, quando passou de ver todos os fios a se tornar um deles. Podia escutar as mensagens e os pensamentos dos outros, os comandos dos Mais Puros e a obediência do resto.
Uma mente que descontrói, um dos Mais Puros pensou em sua direção.
Uma mente que é tudo que precisamos, outro concordou.
Kevin podia sentir a presença de Xan Mais Puro ao seu lado. Acorde, Kevin, junte-se a sua nova vida.
Kevin abriu os olhos, e não podia lembrar de tê-los fechado. O mundo ao seu redor parecia estranho, coberto em um verniz de cores novas, detalhes que nunca teria percebido antes saltando aos seus olhos. Como se pudesse se focar em cada partícula de pó e frações de mudança de cor.
Olhou em volta para as máquinas, e a Colmeia dentro de si o informou para que cada uma servia. Tinha conseguido guardar uma parte de si mesmo? Kevin não sabia. Se sentia como si mesmo, embora todo o resto do mundo parecesse estranho. Parecia mais vivo e mais conectado do que ele jamais tinha imaginado.
Xan Mais Puro se moveu em sua direção, para os controles da armação. O alien os operou, e Kevin sentiu a gravidade que o prendia no lugar se mover de volta para o chão.
“Bem vindo a Colmeia, Emissário Kevin,” Xan Mais Puro disse.
CAPÍTULO CINCO
Luna e os motoqueiros correram dos controlados que os cercavam, disparando para suas motos, tentando chegar lá antes que a velocidade superior daqueles que os aliens controlavam os trouxessem perto demais. Luna correu na direção de onde tinha parado sua própria moto, deitada de lado com o banco de passageiro no ar, obviamente tombada no caos que se seguiu ao momento em que a agarraram.
Ela lutou para levantá-la, empurrando com o corpo todo, o peso fazendo parecer que estava empurrando uma parede sólida. Luna sentiu a moto se mover levemente enquanto empurrava, e finalmente virou, levantando uma pequena nuvem de pó ao bater no chão ao lado da estrada.
“Sobe, Bobby,” ela chamou o cachorro, que ainda estava ocupado rosnando para a horda de controlados que avançava, como se pudesse espantá-los. “Depressa!”
Ela apontou para o banco de carona, e o cachorro entendeu, pulando para dentro e sentando lá, olhando em volta com os dentes de fora. Olhando para trás, Luna viu o motivo: os controlados estavam se aproximando, correndo daquele modo em que estavam mais próximos do que deveriam toda vez que piscava. Luna foi dar partida na moto, determinada a se afastar tanto dos controlados quanto pudesse...
Não queria ligar.
“Agora não,” Luna rosnou entre os dentes, enquanto o motor tossia e cuspia. “Vai logo!”
Ela jogou o peso todo na partida uma vez, e de novo. Podia ver os controlados se aproximando, a apenas vinte metros, depois dez. Luna podia sentir o medo crescendo dentro de si. Não queria saber o que os controlados fariam com alguém que não era mais um deles.
Pisou na partida de novo, com o peso todo em cima dela, e a moto rugiu de volta à vida. Luna não hesitou, acelerando tão rápido quanto se atreveu, para longe da multidão rompante de controlados. Sentiu o peso quanto uma mão dormente prendeu sua moto, uma mulher com pupilas cegas segurando com tanta força que a moto a arrastou junto, fazendo-a quicar no chão quando mesmo sua velocidade acentuada não foi o bastante para acompanhar.
Luna se viu tentando lembrar se tinha visto essa mulher enquanto eram obrigados a trabalhar. Se viu pensando na pessoa que ainda podia estar presa por trás desses olhos, aquela que podia estar lutando para se impedir mesmo enquanto avançava para Luna. Agora Luna sabia exatamente quão horrível era ser um dos controlados, e sabia que não havia nada que a pessoa lá dentro podia fazer para resistir.
Por outro lado, sabia que eles não sentiam dor.
“Desculpa,” Luna disse, chutando a mulher de seu assento na moto até que ela caiu de volta na estrada, permitindo que a moto de Luna se atirasse para frente tão forte que ela teve que se agarrar para não cair.
Ao seu redor, Luna viu os membros do Clube de Motocicletas de Dustside agarrando suas motos e se afastando em formação, as motos em V como se pudessem derrubar qualquer coisa em seu caminho. Ela viu Ignatius pular atrás da moto de Bear, ainda agarrado a sua preciosa arma de vapor.
Agora haviam mais controlados saindo das ruas laterais, se atirando nas motos de todas as direções. A única escolha parecia ser continuar avançando o mais rápido possível, na esperança de que a pura velocidade pudesse levá-los para além da massa de controlados antes que eles pudessem cercá-los, como água derramada em uma vasilha. Luna estava feliz de acelerar. Ter medo da velocidade era melhor do que pensar na chance de ser desmembrada por controlados.
“Não parem!” Luna gritou para os outros, tão alto quanto pode para ser ouvida por cima do barulho das motos. “A gente precisa fugir.”
Continuaram a correr, o mais rápido que podiam. Com os controlados chegando atrás e pelos lados, as motos pularam para longe da massa como rolhas de uma garrafa. Em um instante, estavam em campo limpo, correndo por Sedona, tentando se afastar o máximo possível da horda. Agora estavam se movendo mais rápido do que os controlados podiam acompanhar, na direção da periferia da cidade.
“Acho que é seguro,” Cub chamou, com um sorriso que dizia o quanto estava feliz por estar livre do controle dos aliens.
Luna sorriu de volta para ele, porque estava igualmente feliz de ter fugido. Estava feliz que ele foi salvo também. Não teria gostado da ideia de Cub ficar para trás enquanto ela fugia com os outros. Se aproximou dele, prestes a responder, embora não soubesse muito bem o que falar. Talvez que estava feliz por ele estar lá, talvez mais que isso.
O que quer que fosse, as palavras morreram na garganta quando o brilho de alguma coisa no céu chamou sua atenção, crescendo a cada momento.
“Uma nave!” Luna gritou, olhando de frente para ela.
A nave era uma das menores, mas parecia mais elegante do que as outras, e mais perigosa. Enquanto as outras eram abelhas operárias construídas para levar cargas até as naves maiores, essa parecia mais com uma vespa, de bordas afiadas e mortífera, projetada para matar o que estivesse em seu caminho.
“Está vindo pra cá!” Luna gritou.
Avançou rapidamente, e Luna se perguntou de onde tinha visto. A nave grande acima de Sedona se fora. Até a nave planeta parecia ter partido, desparecendo do céu tão rápido quanto veio. Essa aí devia ter vindo de uma das outras naves, pairando sobre outras cidades para recolher o que pudessem. Pela velocidade com que avançava, devia ter disparado na direção deles tão rápido quanto os motores aguentaram.
“Eles mandaram uma nave de outra cidade por causa da gente?” Cub gritou.
Não fazia sentido que uma nave pudesse alcançá-los tão rápido, ou que eles fossem importantes assim para os aliens. Mas não podia pensar em nenhum outro motivo para uma nave como aquela estar avançando em sua direção tão rápido, ou tão baixo, apenas algumas dezenas de metros acima do chão. Voltar a si mesmos depois de serem controlados parecia ter irritado os aliens mais do que qualquer outra coisa que fizeram.
“Devem ter sentindo pessoas se libertando do controle,” Luna disse.